quinta-feira, 10 de abril de 2025

Crítica – O Deserto de Akin

 

Análise Crítica – O Deserto de Akin

Review – O Deserto de Akin
Não me lembro de outra produção brasileira antes deste O Deserto de Akin que tenha explorado o programa Mais Médicos e a vinda de médicos cubanos para o Brasil. Apesar de ter sido um assunto que tomou a esfera pública por um bom tempo, não tenho lembrança de muitas outras produções brasileiras sobre o tema.

Deserto particular

A trama é centrada em Akin (Reynier Morales), um médico cubano trabalhando no interior do Espírito Santo que vai aos poucos se conectando ao local e é afetado pela mudança no programa e no governo brasileiro depois de 2018. Ele não tem muitas amizades fora do trabalho, tendo em Érica (Ana Flávia Cavalcante) sua única conexão afetiva. Logo a dupla também agrega Sérgio (Guga Patriota), cozinheiro pernambucano que, assim como Akin, se sente solitário e deslocado no local.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Crítica – Força Bruta: Punição

 

Análise Crítica – Força Bruta: Punição

Review – Força Bruta: Punição
Os outros Força Bruta eram filmes ação básicos, mas ao menos divertiam por conta das cenas de ação e do carisma de seu astro. Este Força Bruta: Punição continua focando nesses aspectos, mas agora eles já não chamam a atenção como antes.

Crimes digitais

Na trama, o detetive Ma Seok-Do (Ma Dong-Seok/Don Lee) se junta à unidade de crimes cibernéticos para deter uma grande organização de jogos de azar online que usa o dinheiro para financiar outras operações criminosas. Considerando o crescimento dos cassinos online ao redor do mundo (incluindo aqui no Brasil com o jogo do tigrinho e similares) e como eles nem sempre operam na legalidade, o conflito central do filme soa bastante atual.

terça-feira, 8 de abril de 2025

Crítica – Ainda Não é Amanhã

 

Análise Crítica – Ainda Não é Amanhã

Review – Ainda Não é Amanhã
O tabu em volta do aborto muitas vezes reduz a discussão em torno dele como uma discussão meramente de cunho moral. Isso impede que o problema seja visto como uma questão de saúde pública ou que se discuta outras facetas do problema. Nesse sentido, a produção pernambucana Ainda Não é Amanhã traz uma reflexão mais ampla sobre o tema ao pensar no ambiente inseguro que a proibição do aborto cria para as mulheres.

Alternativas limitadas

A narrativa é protagonizada por Janaína (Mayara Santos), uma jovem que mora com a mãe e a avó na periferia de Recife. Janaína é uma aplicada estudante de direito e namora com Jefferson (Mário Victor), que vive de fazer entregas com sua bicicleta. Quando Janaína descobre estar grávida de Jefferson ela começa a ver seus prospectos de futuro diminuírem e começa a analisar as opções limitadas que tem para resolver a questão.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Crítica – The White Lotus: 3ª Temporada

 

Análise Crítica – The White Lotus: 3ª Temporada

Review – The White Lotus: 3ª Temporada
Chegando em sua terceira temporada, a série de antologia The White Lotus encontra aqui suas tramas menos interessantes. Muito se falou da cadência lenta deste terceiro ano, mas a verdade é que a série sempre desenvolveu seus conflitos em um cozimento lento. As tensões se construíam de maneira deliberada em pequenos gestos, falas sutis que iam se acumulando até estourarem em conflitos. Não é esse o problema real do terceiro ano. O que torna a temporada mais recente inferior às demais é que a maioria dos conflitos ou desdobramentos termina soando superficial, mal construída ou uma repetição de outras temporadas.

Ilha da fantasia

A temporada se passa na Tailândia e apresenta um novo grupo de hóspedes como o trio de amigas Kate (Leslie Bibb), Laurie (Carrie Coon) e Jacklyn (Michelle Monaghan) que estão em uma viagem para curtir, mas acabam desenterrando antigos ressentimentos. Rick (Walton Goggins) chega com a namorada Chelsea (Aimee Lou Wood, de Sex Education), mas esconde dela que está lá para uma vingança pessoal. O rico empresário Timothy Ratliff (Jason Isaacs) está com sua família, a esposa dondoca Victoria (Parker Posey), os filhos Saxon (Patrick Schwarzenegger) e Lochlan (Sam Nivola), e a filha Piper (Sarah Catherine Hook). Retornando da primeira temporada está Belinda (Natasha Rothwell) que vai para a Tailândia aprender novas técnicas de massagem, mas reencontra figuras do passado.

domingo, 6 de abril de 2025

Crítica – Um Dia Daqueles

 

Análise Crítica – Um Dia Daqueles

Review – Um Dia Daqueles
Com Hollywood tão focada em grandes blockbusters, filmes de super-heróis e universos compartilhados a impressão é que certos gêneros ou subgêneros foram colocados em escanteio pela indústria e a comédia besteirol, tão frequente no final da década de 90 e no início dos anos 2000, é um deles. Um Dia Daqueles soa como o tipo de comédia amalucada que Hollywood parece ter esquecido de como fazer, apenas ocasionalmente entregando produções como Loucas em Apuros (2023).

Amigas sem dinheiro

A narrativa acompanha as amigas Dreux (Keke Palmer) e Alyssa (SZA), que dividem um apartamento juntas. Quando o namorado trambiqueiro de Alyssa gasta o dinheiro do aluguel, elas precisam correr contra o tempo para levantar a quantia até o final do dia para não serem despejadas. Em meio a tudo isso, a dupla é caçada por Bernice (Aziza Scott), a raivosa amante do namorado de Alyssa.

sábado, 5 de abril de 2025

Crítica – Centro Ilusão

 

Análise Crítica – Centro Ilusão

Review – Centro Ilusão
Escolher viver de arte não significa que a arte irá escolher você. Independente do talento é possível amargar sucesso e anonimato por muito tempo e muita gente abandona essa busca artística por conta de desilusões. Centro Ilusão trata exatamente disso, do quanto o mundo da arte pode te mastigar e cuspir de volta e de onde é possível encontrar ânimo para continuar.

Música errante

A narrativa acompanha dois músicos que se conhecem na seleção para um laboratório musical. Kaio (Bruno Kunk) é um jovem músico que vê no laboratório a chance de finalmente poder atuar profissionalmente como músico ao invés de tocar na rua passando o chapéu. Tuca (Fernando Catatau) é um homem de meia idade que a despeito do talento nunca decolou como músico e vê no laboratório uma última chance. Enquanto aguardam o resultado da seleção, ambos perambulam pelo centro de Fortaleza conversando sobre suas experiências.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Crítica – 3 Obás de Xangô

 

Análise Crítica – 3 Obás de Xangô

Review – 3 Obás de Xangô
Dirigido por Sérgio Machado (responsável por filmes como Cidade Baixa e A Luta do Século), o documentário 3 Obás de Xangô analisa a amizade entre três artistas baianos, a influência deles na cultura do estado e como eles ajudaram a promover culturas afro brasileiras e a enfrentar o preconceito contra as religiões de matriz africana.

A invenção da Bahia

A produção narra a amizade entre o escritor Jorge Amado, o músico Dorival Caymmi e o artista plástico Carybé a partir da conexão que eles tinham com o terreiro de Mãe Stella de Oxóssi no qual ocupavam a posição de Obá de Xangô, um título honorífico que reconhecia o papel deles na visibilidade que davam à cultura afro e o combate ao preconceito. Estruturalmente é um documentário bem convencional, recorrendo a imagens de arquivo que mostram as interações entre os três personagens, produções inspiradas nas obras deles (como as adaptações cinematográficas de Jorge Amado), além de entrevistas com personalidades contemporâneas, como o ator Lázaro Ramos ou o escritor Itamar Vieira Junior, que falam da influência dos três artistas.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Crítica – A Queda do Céu

 

Análise Crítica – A Queda do Céu

Review – A Queda do Céu
Dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o documentário A Queda do Céu se baseia no livro homônimo de Davi Kopenawa e Bruce Albert. O livro trazia reflexões do xamã yanomami Davi Kopenawa sobre as noções brancas de progresso e desenvolvimento, narrando também o modo como os xamãs se relacionam com o mundo espiritual para proteger a natureza e evitar a “queda do céu” que seria causada pela desarmonia promovida pelos brancos.

Cosmovisão nativa

É um filme focado principalmente em nos fazer entender a cosmovisão do povo yanomami. Ou seja, como eles veem o mundo, o funcionamento do universo e o que eles pensam das práticas das pessoas de fora, supostamente desenvolvidas. A produção inicia com uma longa cena de um grupo de yanomamis se deslocando por uma trilha em meio a um descampado e dá o tom para um filme que é, em essência, sobre as movimentações dessa população. Como eles se movimentam pela região e vivem com a floresta, como tentam se proteger de ataques externos e como eles se movimentam internamente em seus rituais xamânicos na busca por revelações sobre o devir e por proteção nos conflitos com os brancos.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Crítica – Holland

 

Análise Crítica – Holland

Review – Holland
Depois de um interessante primeiro longa em Fresh (2022), a diretora Mimi Cave nos traz este Holland, que tenta construir uma atmosfera de mistério e estranhamento, mas que termina sendo mais uma história sobre como a idílica vida de classe média em uma pequena cidadezinha estadunidense pode ser mais sombria do que parece. É uma produção que atira em várias direções ao mesmo tempo e que não é certeira em nenhuma, dependendo do carisma de Nicole Kidman para manter tudo coeso.

Perfeição artificial

A narrativa é protagonizada por Nancy (Nicole Kidman), uma dona de casa na pequena cidade de Holland, um lugarejo no interior dos Estados Unidos que tenta emular o estilo de vida na Holanda. Ela tem uma vida aparentemente pacata ao lado do marido, Fred (Mathew Macfadyen), e do filho, Harry (Jude Hill). Essa existência aparentemente perfeita é maculada quando Nancy descobre papeis relativos as viagens de trabalho do marido que provam que ele não ia para as cidades que dizia que ia. Imediatamente Nancy começa a investigar os hábitos de Fred e alista o colega de trabalho Dave (Gael Garcia Bernal) para ajudá-la. Ao curso da investigação os dois se aproximam ao mesmo tempo em que descobrem coisas sombrias a respeito de Fred.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Crítica – Presença

 

Análise Crítica – Presença

Review – Presença
É curioso que este Presença, filme de 2024 de Steven Soderbergh tenha chegado aqui depois do filme mais recente do diretor, Código Preto. Se Código Preto trazia o realizador de volta a algo menos experimental que seus últimos filmes, Presença é um trabalho mais conceitual de Soderbergh em termos de como ele conta a história.

Câmera-olho

A câmera é uma presença constante em cena, mas ela opera de maneira relativamente paradoxal. Apesar de estar fisicamente no espaço em muitos casos ela age como um olhar onisciente sobre aquele universo ficcional, com os personagens nunca reconhecendo a presença do dispositivo, sendo simultaneamente uma presença e uma ausência. De certa forma a câmera age como um espectro, uma assombração, vendo sem ser vista. Soderbergh leva isso para a literalidade ao contar toda a história de Presença do ponto de vista de uma assombração presente em uma casa. A câmera funciona aqui como o olhar etéreo dessa entidade que vaga pelo imóvel.