quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crítica – Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer

Análise  Duro de Matar: Um Bom Dia Para MorrerO primeiro Duro de Matar (1988) foi lançado como um contraponto aos filmes de ação estrelados por brucutus indestrutíveis que enfrentavam hordas de inimigos sem dificuldade e saíam ilesos dos mais violentos confrontos e John McClane (Bruce Willis) não era assim. Apesar de ser um policial competente, McClane estava sempre acuado, em menor número e com equipamento inferior, para vencer precisava usar seu raciocínio, estratégia e ocasionalmente algumas provocações aos seus adversários. Cada confronto da trilogia original era uma luta pela vida e o risco que o protagonista corria era palpável, ao final da maioria de seus enfrentamentos McClane raramente saía ileso e ao longo dos filmes ia ficando mais debilitado, aumentando os riscos e, consequentemente, o suspense.
Boa parte desses elementos já tinham sido defenestrados no quarto filme da série Duro de Matar 4.0 (2007) e agora este Duro de Matar: Um Bom Dia Para Morrer termina de abandonar praticamente tudo que tornava a franquia tão legal, transformando seu protagonista em um Rambo genérico que fica parado metralhando capangas que correm estupidamente rumo aos seus tiros e sobrevive a praticamente tudo sem nenhuma consequência. McClane até sangra e reclama da dor, mas logo depois ele está agindo como se nada tivesse acontecido. O cúmulo disso é a cena em que McClane e seu filho, Jack (Jai Courtney), se jogam sobre alguns andaimes e Jack termina com uma haste de metal atravessada na lateral do abdômen, seu pai retira o ferro e na cena seguinte ele corre, pula e atira como se não houvesse nenhum ferimento.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Crítica – A Hora Mais Escura

Os atentados de 11 de setembro mudaram os Estados Unidos, a superpotência que até então parecia inatingível foi ferida brutal e publicamente, já não podia mais ser vista como invencível e imune a ameaças. Parecia lógico, portanto, para esta nação que se considerava ferida perseguir o responsável como uma maneira de reparação, de fechar as feridas abertas, é exatamente sobre a busca por Osama Bin Laden que trata este A Hora Mais Escura.
O filme acompanha a jornada da agente Maya (Jessica Chastain) desde 2003 até os instantes ocorridos na casa do Paquistão onde Bin Laden foi abatido (e não, isso não é spoiler). O filme se mostra bastante didático em apresentar datas, locais e fatos de modo a reforçar que está retratando fatos reais. Contribui também para isso a divisão da narrativa em tópicos e a própria direção de Kathryn Bigelow que conduz a obra com uma objetividade quase que jornalística como se fosse um filme-reportagem.
É bom deixar claro, no entanto, que isso não significa que tudo que vemos tela ocorre tal qual a realidade, ainda estamos diante de uma obra de ficção, encenada, roteirizada e atuada. Muito bem atuada por sinal, a protagonista Jessica Chastain constrói muito bem a transformação da agente Maya que inicialmente apresenta-se incomodada com as práticas de interrogatório para, aos poucos, abrir mão de qualquer coisa e se alienar de qualquer humanidade em nome de sua obsessão em localizar de Bin Laden. É interessante inclusive como o filme usa sua protagonista feminina para chamar a atenção para o machismo que ainda existe nos locais de trabalho, principalmente na cena da reunião com o diretor da CIA onde Maya, a única mulher do recinto e a que mais conhece o assunto, é colocada para sentar em uma cadeira distante, próxima à parede, enquanto o resto da equipe senta-se à mesa e ao redor do diretor e todos conversam de costas para ela, ignorando sua presença até o momento em a agente se manifesta.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Crítica – O Lado Bom da Vida

Análise O Lado Bom da VidaO diretor David O. Russel já tinha me surpreendido uma vez com Três Reis (1999), um filme que parecia ser mais um filme de ação sobre a Guerra do Golfo se revelou um retrato interessante da ocupação americana no Iraque durante o período. Me surpreendeu novamente com O Vencedor (2010), uma obra que parecia ser outro melodrama sobre boxe, mas que era, na verdade um drama eficiente sobre uma família problemática. Agora, com seu O Lado Bom da Vida, me surpreende pela terceira vez transformando o que poderia ser apenas mais um daqueles filmes indies/bonitinhos banais (sim, Juno, estou olhando para você) que sempre aparecem durante a temporada de premiações em uma comédia dramática extremamente eficiente sobre duas pessoas emocionalmente complicadas.
A história, adaptada do romance homônimo de Matthew Quick, acompanha Pat (Bradley Cooper), um homem recém-saído de um hospital psiquiátrico que volta a morar com os pais (Robert De Niro e Jacki Weaver) e tenta reconstruir sua vida e voltar para sua esposa. Buscando ter uma atitude positiva em relação à vida ele tenta reconstruir o vínculo com Ronnie (John Ortiz), seu amigo de infância, e acaba se aproximando de sua cunhada Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem tão problemática quando ele próprio.
Construir uma história ao redor de indivíduos mentalmente perturbados é obviamente uma corda bamba temática, se o filme pegar leve demais e suavizar o problema cai no erro de ser condescendente e romantizar um problema sério. Por outro lado, se o diretor pesar demais a mão nos problemas dos personagens, pode acabar produzindo uma reação de repulsa ao invés de simpatia pelos protagonistas ou cair no melodrama barato que apenas visa mostrar como é trágico e difícil lidar com pessoas com esses problemas.

Crítica - Os Miseráveis

Este Os Miseráveis, dirigido por Tom Hooper (O Discurso do Rei) não adapta diretamente o romance de Victor Hugo e sim o musical da Broadway baseado no romance. Assim sendo, aconselho de se manterem afastados do filme aqueles que têm dificuldade em comprar a ideia de ter pessoas cantando o tempo todo ao invés de falarem umas com as outras, já que se trata de exemplar bastante tradicional do gênero musical.
O filme se passa na França do século XIX e conta a história de Jean Valjean (Hugh Jackman) um homem que passou vinte anos preso por roubar um pedaço de pão e foge depois de receber sua liberdade condicional, passando a ser caçado pelo inspetor Javert (Russel Crowe). Anos passam e Valjean se torna prefeito de uma pequena cidade, mas, quando decide tomar conta da filha da trabalhadora Fantine (Anne Hathaway), acaba indo em direção ao seu perseguidor e à explosão de uma revolta popular em Paris.
É uma pena que uma história tão forte e com tanto potencial foi parar em mãos tão preguiçosas quanto às de Tom Hooper que, assim como fizera com em O Discurso do Rei(2010), parece estar dirigindo com o piloto automático ligado. Seus planos são quase sempre estáticos e pouco exploram a profundidade do campo. O registro dos atores (principalmente quando estão cantando) se dá primordialmente por primeiros planos e isso se torna bastante problemático quando mais de duas pessoas interagem ao mesmo tempo já que a montagem fica pulando rapidamente de um close para outro, não valorizando ou utilizando o espaço da cena ou mesmo outros aspectos da performance de seus atores que não seus rostos. A sensação é que ele posicionou as câmeras, fez a marcação dos atores e depois saiu para tomar um café enquanto a cena era rodada.

Crítica – Caça aos Gângsteres

Um policial durão e incorruptível se cansa do domínio de um chefão da máfia sobre sua cidade e monta um esquadrão para trabalhar independente da corrupta polícia e por um fim a este reino de crimes, essa é a premissa de Os Intocávei…opa…err…de Caça aos Gângsteres que, como podem ver, tem uma sinopse rigorosamente semelhante ao clássico de 1987 dirigido por Brian de Palma e isso já indica que não veremos um filme muito inovador ou criativo.
Ambientado na Los Angeles no fim dos anos 40, acompanhamos o detetive O’Mara (Josh Brolin) formar seu grupo de intocáv….digo…esquadrão anti-gângsteres para deter psicótico mafioso Mickey Cohen (Sean Penn). Apesar do elenco de renome que contem ainda Ryan Gosling, Giovanni Ribisi, Robert Patrick e Emma Stone, os personagens não passam de um bando de estereótipos que vão, além dos já citados, para o velho pistoleiro (Patrick), o galã com problemas de jogo (Gosling), o certinho e idealista (Ribisi) e por aí vai, sem nunca desenvolvê-los de modo satisfatório ou tentar fazer deles algo além destes estereótipos. O roteiro tampouco oferece algo além de um desenvolvimento apressado (temos a sensação de que se passaram poucos dias e não os meses que de fato passam), e previsível.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Crítica - O Mestre

Durante muito tempo O Mestre era tido como uma espécie de filme-denúncia que trataria do início da cientologia, seita que arrebanha famosos como Tom Cruise e John Travolta, centrando-se na figura de seu criador, L. Ron Hubbard. O filme, entretanto passa longe disto. O diretor Paul Thomas Anderson de fato retrata um grupo bem parecido com a cientologia e o personagem Lancaster Dodd (Philip Seymour-Hoffman), o mestre do título, é a cara de Hubbard, mas sua intenção aqui parece ser muito mais tratar de ideias como controle, poder e o fascínio da crença do que apenas criticar a cientologia.
O Mestre conta a história de Freddie Quell (Joaquin Phoenix) um veterano da Segunda Guerra, confuso, alcoólatra e autodestrutivo que se encontra por acaso com Lancaster Dodd, líder do grupo conhecido como “A Causa”. A partir desse encontro, Dodd vê em Quell uma cobaia (o personagem chega a se referir a ele desta forma) para testar os métodos de sua religião e acompanhamos o desenrolar da relação dos dois bem como o crescimento do culto.
É impressionante como Phoenix desaparece em sua composição de Quell, com uma postura torta, ombros curvados e andar esquisito que revelam externamente o interior “distorcido” do personagem. A confusão interna do personagem também é retratada em sua dicção, com um tom grave e lento (como se o ato fosse incrivelmente difícil), além de mal mover os lábios para falar.

Crítica – Lincoln

Lincoln inicia com um longo texto explicando todo o contexto da guerra de secessão americana, no momento me questionei se seria realmente necessário realizar aquela longa exposição daquela forma, antes mesmo do filme propriamente dito começar, mas ao fim do filme compreendi se tratar de uma escolha acertada. A verdade é que o restante do mundo pouco conhece da história dos Estados Unidos e tampouco partilha da idolatria dos americanos para com seu presidente-mártir e é exatamente com essa idolatria que o filme conta para envolver o espectador.
Com isso não quero dizer que o filme é uma peça ufanista estúpida de propaganda do “sonho americano”, longe disso. O diretor Steven Spielberg se esforça para traçar um retrato complexo dos últimos meses em que Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis) ocupou a presidência dos Estados Unidos e sua luta e estratagemas para encerrar a guerra de secessão e abolir a escravidão, mas apesar de sua direção classuda e competente, o filme nunca realmente se preocupa em nos envolver e nos engajar da luta daqueles personagens como se o fato de sabermos se tratar da história de Abraham Lincoln fosse o bastante para nos colocar dentro do filme e torcendo pelos personagens.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Crítica - Django Livre

A vingança é um tema caro ao diretor Quentin Tarantino, praticamente em todos os seus filmes há um personagem engajado numa busca por vingança. O fascínio pelo tema é compreensível, afinal vingança consiste em reparar um erro ou uma injustiça feita com alguém de modo a devolver o equilíbrio às coisas. Neste Django Livre o tema da vingança parece mais do que adequado, já que se trata do levante de um escravo contra seus escravizadores e duvido que haja uma situação social tão unanimemente considerada como maligna quanto a escravidão.

No filme, dois anos antes da Guerra de Secessão americana que pôs fim à escravidão no país, Django (Jamie Foxx) é um escravo libertado pelo caçador de recompensas alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz) para ajuda-lo a encontrar um grupo de bandidos que apenas Django conhece o rosto. Ao mesmo tempo, Django deseja reencontrar sua esposa, Brunhilde (Kerry Washington), que foi vendida ao inescrupuloso fazendeiro Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).

Tarantino, entretanto, não está aqui para produzir um longo tratado antropológico acerca das mazelas da escravidão, ele deseja produzir alguma sensação de reparação, mas o faz de seu próprio jeito, com diálogos irônicos e verborrágicos, além de, é claro, uma dose cavalar de ultraviolência. Se muitos podem criticar o filme por não adentrar em todas as implicações da escravidão, é impossível negar o efeito catártico produzido pelas imagens de Django açoitando violentamente seu feitor.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Crítica - O Último Desafio

Análise O Último DesafioUm perigoso bandido em fuga dirige-se para uma cidadezinha no interior dos Estados Unidos e cabe ao xerife local a responsabilidade de lidar com a ameaça, mesmo sabendo que não tem contingente para lidar com alguém tão perigoso. Esse enredo tão característico dos filmes de faroeste é mais uma vez reeditada neste O Último Desafio, dirigido por Kim Jee-woon e estrelado por Arnold Schwarzenegger, que interpreta o xerife de uma pequena cidade dos dias atuais próxima à fronteira com o México.

O filme, apesar de beber da fonte dos faroestes de outrora com sua música e com os tiroteios em meio à rua principal de uma pequena cidade, passa longe de ser um faroeste moderno e revisionista como Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) dos irmãos Coen. O foco aqui é mesmo a ação exagerada e sanguinolenta no melhor estilo dos filmes de ação da década de 80 que parece estar sendo trazido de volta em filmes como este e Os Mercenários (2010).

Dito isto, fica claro que O Último Desafio não é um filme para ser levado a sério ou analisado a fundo, trata-se de uma bobagem, mas uma bobagem altamente eficiente e divertida. Se o roteiro do filme foi facilmente reduzido à frase inicial desta crítica, não se pode esperar muito mais profundidade dos personagens. O narcotraficante em fuga Gabriel Cortez (Eduardo Noriega) e seu assistente Burrel (Peter Stormare) são tão caricatos e exagerados que se tornam incrivelmente hilários.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Crítica - Detona Ralph

Faz um bom tempo que a indústria americana tenta emplacar nos cinemas os grandes sucessos da indústria dos videogames, mas os resultados costumam sempre ficar aquém do esperado. Claro, temos a franquia Resident Evil que já está no seu quinto filme, embora nenhum digno de nota. A ideia de fazer um filme sobre um game que não existe e, portanto, livre das amarras que envolvem adaptar um jogo já existente parecia bastante promissora e o resultado deste Detona Ralph é realmente bom.

O filme é encabeçado por Ralph, vilão do game oitentista Fix-It Felix (algo bem parecido com o Donkey Kong original), que está cansado de todo dia ser arremessado do alto de seu prédio e ficar sozinho em um lixão sendo ignorado pelo resto dos personagens de seu game. A trama é uma mistura de Toy Story com Uma Cilada Para Roger Rabbit. Do clássico da Pixar se revisita a ideia do que fazem os brinquedos, ou videogames nesse caso, quando não estamos por perto e do segundo a mistura de personagens de diferentes universos coexistindo e interagindo. Assim, na cena em Ralph está na sua terapia de grupo dos “Vilões Anônimos”, vemos ele lado a lado com personagens conhecidos dos videogames como Zangief, Dr. Eggman, Kano e um dos fantasmas do Pac-Man. É apenas uma pena que o filme se aproveite tão pouco de suas “participações especiais”, pois seria bastante interessante ver uma cena entre Sonic e Mario ou entre Ryu e Sub-Zero nos moldes das interações entre Patolino e Pato Donald ou entre Mickey e Pernalonga em Uma Cilada Para Roger Rabbit.