Em um determinado momento de Ilha, um personagem diz algo do tipo “nosso cinema é subdesenvolvido por natureza”.
A frase serve como uma chave para entender o filme e as escolhas estéticas e
temáticas feitas nele. Durante os anos 60 e 70, críticos, pesquisadores e
cineastas como Glauber Rocha, Fernando Solanas, Octavio Getino ou Júlio García
Espinosa já falavam sobre como o cinema poderia servir aos países latino-americanos
para refletir sobre seu próprio subdesenvolvimento e condição colonizada.
Termos como “estética da fome”, “cinema
impuro” ou “cinema imperfeito” eram usados por esses autores para falar de
filmes feitos com poucos recursos e que acabavam deixando de lado a preocupação
com uma perfeição da pureza ou perfeição estética em virtude da necessidade
urgente de contar histórias sobre pessoas e comunidades marginalizadas que não
tem suas vozes ouvidas. Ilha bebe
nessa fonte, adotando uma estética propositalmente “suja” para tecer uma trama
metalinguística sobre a natureza da representação cinematográfica e a vida no
extremo sul da Bahia.