quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Crítica – As Viúvas


Análise Crítica – As Viúvas


Review – As Viúvas
Minha reação inicial ao saber que o projeto seguinte do diretor Steve McQueen seria um filme de assalto como este As Viúvas foi de estranhamento. McQueen foi responsável por filmes como 12Anos de Escravidão (2013), Shame (2011) e Fome (2008), trabalhos sobre pessoas vulneráveis e à margem, então a ideia de que ele embarcaria em um tipo de filme mais convencional parecia, à primeira vista, motivada por dinheiro. Por outro lado, outros diretores já tinham migrado para gêneros mais populares sem, no entanto, abrirem mão dos temas que tornam suas obras tão singulares. Spike Lee fez isso no excelente Plano Perfeito (2006), que, por baixo do verniz de filme de roubo, trazia o olhar típico de Lee para questões de classe, etnia e reparação social e agora McQueen faz o mesmo com As Viúvas.

A narrativa acompanha Veronica (Viola Davis), uma mulher que recentemente perdeu o marido, Harry (Liam Neeson) morto durante um assalto que deu errado. O problema é que o marido de Veronica roubou dinheiro de um poderoso gângster, Jamal (Brian Tyree Henry), que agora é candidato a vereador e pressiona Veronica pelo dinheiro roubado. Acuada, Veronica procura as viúvas dos outros ladrões mortos, Linda (Michelle Rodriguez) e Alice (Elizabeth Debicki), para juntas realizarem um roubo que Harry planejou antes de morrer e assim consigam o dinheiro para pagar Jamal e reconstruírem suas vidas.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Crítica – Supa Modo


Análise Crítica – Supa Modo


Review – Supa Modo
O longa-metragem queniano Supa Modo começa com duas crianças estão assistindo a um exagerado filme de artes marciais oriental. O filme termina e as duas saem empolgadas, conversando sobre quem seria melhor, se Jet Li, Jackie Chan ou Bruce Lee. É uma conversa trivial, mas que ajuda a entender o tom do filme, já que logo depois da cena descobrimos que a garota, Jo (Stycie Waweru), está com câncer terminal e como só tem dois meses de vida, a família tirá-la do hospital para que ela passe os últimos dias em casa.

A escolha de mostrar Jo como uma criança como qualquer outra ao invés de já iniciar nos comunicando de sua grave doença ajuda que não a vejamos como uma coitada ou uma vítima, mas como uma garota cheia de vida e energia. Retornando à casa e sem perspectiva de melhora, a irmã de Jo, Mwix (Nyawara Ndambia), decide aproveitar o tempo que a irmã tem restando para fazê-la viver o sonho de ser uma super-heroína.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Crítica – Robin Hood: A Origem


Análise Crítica – Robin Hood: A Origem


Review – Robin Hood: A Origem
É impressionante como Hollywood parece não saber o que fazer com a mítica figura de Robin Hood. Em tese é um personagem atemporal, afinal enquanto existir desigualdade social a figura de Robin permanece relevante. Por outro lado, a indústria estadunidense parece rejeitar veementemente o estilo “capa e espada” (ou swashbuckling em inglês) das histórias do personagem, com aventureiros charmosos, salões de baile e pessoas se balançando em lustres.

Ridley Scott já tinha tentando fazer um Robin Hood como épico histórico que falhou miseravelmente e agora essa nova versão tenta transformar a história do personagem em uma espécie de cópia safada dos filmes dos super-heróis da DC dirigidos pelo Zack Snyder. Considerando que a própria Warner/DC está se afastando do modelo “snyderiano” (e o sucesso comercial abaixo do esperado deste formato), este Robin Hood: A Origem é um filme que já nasce datado, superado e anacrônico. É o equivalente cinematográfico de um bebê natimorto.

Na trama, o nobre Robin de Loxley (Taron Egerton) retorna das cruzadas para descobrir que o Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) confiscou todas as suas propriedades e sua amada Marian (Eve Hewson) está casada com um líder local Will (Jamie Dornan). Destituído, Robin acaba se aliando ao mouro John (Jamie Foxx) para derrubar o Xerife.

Crítica - Rafiki


Análise Crítica - Rafiki


Review - Rafiki
Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva) são filhas de dois políticos rivais que estão disputando a eleição para vereador. Quando as duas se apaixonam, precisam decidir se viverão abertamente esse romance, tanto por conta de suas famílias quanto do preconceito da sociedade, ou se continuarão escondidas e em segurança. Esse é o conflito no centro do queniano Rafiki, segundo longa-metragem da diretora Wanuri Kahiu.

A primeira metade do filme trata o enlace romântico das duas com uma certa ingenuidade romântica, como se estivéssemos diante de uma comédia romântica qualquer. Nenhuma das duas parece ter qualquer problema (embora boa parte das pessoas ao redor delas tenha) em estar apaixonada por uma mulher ou questionam a própria sexualidade. O filme trata esse romance homossexual com a mesma naturalidade que boa parte das comédias românticas tratam romances heterossexuais e, com isso, manifesta um ideal de igualdade. Amor e romance são amor e romance independente dos gêneros das pessoas envolvidas.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Crítica – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais


Análise Crítica – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais


Review – Marvel’s Spider-Man: Guerras Territoriais
Guerras Territoriais, segundo DLC do excelente Marvel’s Spider-Man, continua mais ou menos do ponto em que O Assalto parou. O gângster Cabeça de Martelo (Hammerhead) ampliou ainda mais seu poder e influência entre os criminosos da cidade, iniciando um reino de terror por Nova Iorque. Cabe ao Homem-Aranha, com a ajuda da capitã Yuri Watanabe, deter o criminoso.

Preciso admitir que me surpreendi pelos caminhos sombrios que a narrativa me levou, explorando a elevação das tensões depois que um esquadrão da capitã Watanabe é assassinado pelo Cabeça de Martelo e a policial para em uma sangrenta e desesperada busca por vingança. Durante a campanha principal Yuri era basicamente um veículo de diálogos expositivos e “fornecedora de missões”, mas aqui ela ganha bastante nuance conforme é afetada pelas consequências brutais do seu duelo com a máfia e vai abandonando seus valores em sua sanha vingativa.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Crítica - Los Silencios


Análise Crítica - Los Silencios


Review - Los Silencios
São muitos os silêncios que marcam este Los Silencios, da diretora Beatriz Seigner. Os silêncios provocados por ausência, os silêncios daqueles que não têm voz diante dos caprichos dos poderosos e o silêncio daqueles que morreram e por isso são incapazes de contar suas histórias.

A trama é centrada em Amparo (Marleyda Soto), uma mãe de dois filhos que tenta fugir da zona de conflito em que vive na Colômbia. Ela vai para a zona de tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil, se instalando em uma casa de palafita em uma ilha localizada no meio do Rio Amazonas e que formalmente não pertence a nenhum dos três países. Lá, ela encontra o marido (Enrique Diaz), que supostamente estava morto.

O filme traz uma mistura de realismo social com realismo fantástico. Falo em realismo social pelo fato de registrar o cotidiano de uma comunidade que literalmente não pertence a lugar nenhum (a “Ilha da Fantasia”) realmente existe, mostrando o desafio diário de viver em um local que está aos sabores das cheias e vazantes do rio, mesclando atores profissionais com um elenco de não atores formados pela comunidade. O realismo fantástico, por outro lado, se manifesta na literal presença de fantasmas que interagem com os vivos.

Vencedores do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema


Vencedores do XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema


O XIV Panorama Internacional Coisa de Cinema encerrou ontem e distribuiu os prêmios das suas mostras competitivas. Na competitiva nacional, o longa Luna foi escolhido como o melhor pelo júri oficial, enquanto que Ilha foi o eleito do júri jovem, recebendo também uma menção honrosa do júri oficial. Na competitiva baiana, o júri oficial premiou o documentário Bando, um filme de, dirigido por Lázaro Ramos e o júri jovem premiou o documentário Dr. Ocride. Confiram abaixo a lista completa de vencedores.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Crítica – A Voz do Silêncio


Análise Crítica – A Voz do Silêncio


Review – A Voz do Silêncio
A Voz do Silêncio é um daqueles filmes que constroem um grande mosaico de personagens, transitando entre diferentes histórias que eventualmente se conectam de alguma maneira. Me lembrou bastante o excelente Magnólia (1999), de Paul Thomas Anderson, não só pela sua estrutura de mosaico, como também pela temática de pessoas solitárias em busca de afeto ou alguma conexão e pelo eventual uso de uma ocorrência cósmica/fantástica/sobrenatural para arrematar todas essas histórias. No filme de Anderson é uma chuva de sapos retirada do Velho Testamento, aqui é um eclipse lunar que deixa a Lua vermelha.

Como acontece em muitas tramas que saltam constantemente entre múltiplos personagens e narrativas, o resultado aqui é irregular e nem todas as histórias envolvem como deveriam. A mais eficiente é a que envolve uma mulher solitária em seu apartamento, interpretada por Marieta Severo, falando sobre o filho que está viajando pelo mundo. É uma das tramas que o filme dá mais tempo de tela e talvez seja por isso que ela envolva mais que as demais, além, claro do trabalho de Marieta Severo como uma senhora que parece cada vez mais deslocada da própria realidade e anestesiada pela televisão.

Crítica – Ilha


Análise Crítica – Ilha


Review – Ilha
Em um determinado momento de Ilha, um personagem diz algo do tipo “nosso cinema é subdesenvolvido por natureza”. A frase serve como uma chave para entender o filme e as escolhas estéticas e temáticas feitas nele. Durante os anos 60 e 70, críticos, pesquisadores e cineastas como Glauber Rocha, Fernando Solanas, Octavio Getino ou Júlio García Espinosa já falavam sobre como o cinema poderia servir aos países latino-americanos para refletir sobre seu próprio subdesenvolvimento e condição colonizada.

Termos como “estética da fome”, “cinema impuro” ou “cinema imperfeito” eram usados por esses autores para falar de filmes feitos com poucos recursos e que acabavam deixando de lado a preocupação com uma perfeição da pureza ou perfeição estética em virtude da necessidade urgente de contar histórias sobre pessoas e comunidades marginalizadas que não tem suas vozes ouvidas. Ilha bebe nessa fonte, adotando uma estética propositalmente “suja” para tecer uma trama metalinguística sobre a natureza da representação cinematográfica e a vida no extremo sul da Bahia.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Crítica – Parque do Inferno


Análise Crítica – Parque do Inferno


Review – Parque do Inferno
Entrando para assistir este Parque do Inferno, a impressão é de que seria uma versão piorada de Pague Para Entrar, Reze Para Sair (1981), um terror oitentista dirigido por Tobe Hooper, responsável por O Massacre da Serra Elétrica (1974). Tendo visto Parque do Inferno posso dizer que, bem, é isso mesmo.

A trama segue Natalie (Amy Forsyth) uma garota certinha que desde os primeiros minutos fica evidente que será a única a sobreviver ao que acontecerá. Junto com algumas amigas de faculdades e seus respectivos namorados, Natalie vai a um parque que é montado na cidade toda época de Dia das Bruxas e que já foi palco de um assassinato dois anos antes. Os amigos de Natalie todos falam de bebida e sexo, o que em termos de terror slasher significa que eles obviamente irão morrer.

Aí reside o primeiro problema. O filme se apoia em clichês velhos, cujo próprio cinema hollywoodiano já apontou a obviedade a exemplo da franquia Pânico ou o metalinguístico o Segredo da Cabana (2012). Ainda assim, Parque do Inferno recicla toda essa miríade de lugares comuns sem um quantum de ironia ou autorreflexividade, aderindo acriticamente a fórmulas manjadas e previsíveis.