sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Crítica – Poderia Me Perdoar?


Análise Crítica – Poderia Me Perdoar?


Review – Poderia Me Perdoar?
Na prática, Poderia Me Perdoar? é algo que não deveria funcionar. Sua protagonista é uma criminosa de personalidade desagradável, movida por razões egoístas e por dificuldades que ela mesma criou para si. Ainda assim, o filme é um envolvente estudo de personagem que reconhece a complexidade de sua biografada.

Baseado em uma história real, a narrativa segue a escritora Lee Israel (Melissa McCarthy), especializada em escrever biografias, Lee chegou a ter um livro entre os mais vendidos do ranking do New York Times, mas agora vivia na pobreza e amargando o fracasso, precisando trabalhar como revisora para sobreviver. Parte do seu fracasso se devia aos seus objetos, escrevendo sobre personalidades sobre as quais ninguém se interessa mais. Sua personalidade abrasiva e agressiva é outro problema, tratando mal e com hostilidade praticamente todo mundo ao seu redor, Lee fechou para si muitas portas.

Não que a protagonista sinta exatamente falta de ter pessoas consigo. Lee é uma típica misantropa, detestando o contato com outros, preferindo ficar sozinha em seu apartamento na companhia de seu gato, um copo de uísque e a prosa cáustica e sagaz de autores como Noel Coward ou Dorothy Parker. Qualquer coisa que não se encaixe nessas três categorias é tratada com desprezo ou hostilidade por Lee, tornando-a uma pessoa difícil de conviver e de gostar. Sem trabalho ou meios de se sustentar, ela começa a forjar documentos, cartas ou bilhetes escritos pelos autores que admira para poder vendê-los a colecionadores.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Crítica – Se a Rua Beale Falasse


Análise Crítica – Se a Rua Beale Falasse


Review – Se a Rua Beale Falasse
Tal como aconteceu em Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016), filme anterior do diretor Barry Jenkins, este Se A Rua Beale Falasse é, em seu cerne, a história de vidas cheias de potencial prejudicadas por uma prisão. A trama se passa na década de 70 e foca no casal Fonny (Stephan James) e Tish (Kiki Layne). Fonny foi preso por um crime que não cometeu e Tish está grávida dele, precisando encontrar uma maneira de se sustentar.

Jenkins poderia enquadrar essa história como um suspense, com uma corrida contra o tempo para provar a inocência de Fonny, mas tal como seu filme anterior, este aqui é menos sobre grandes momentos bombásticos e mais sobre o cotidiano das pessoas e como o afeto ou a busca por afeto guia essa vida do dia a dia. Seu interesse é na subjetividade da experiência de vida da população negra dos Estados Unidos.

Seus planos são longos, sem pressa, e tem um caráter bastante contemplativo e poético, encontrando beleza e lirismo nas vidas daquelas pessoas apesar das dificuldades vivenciadas por elas. Um exemplo é a narração de Fonny falando sobre querer estar com Tish é colocada em paralelo com imagens dos dois juntos e de Tish dando banho no filho em um plano cuja câmera está dentro da banheira, filmando o bebê por baixo, como se a criança flutuasse no ar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Crítica – Uma Aventura Lego 2


Análise Crítica – Uma Aventura Lego 2


Review – Uma Aventura Lego 2
O primeiro Uma Aventura Lego (2014) foi uma grata surpresa, conseguia ir além de uma mera publicidade de brinquedos (embora, em essência, seja isso) ao apresenta uma aventura ágil que refletia sobre o lado imaginativo de brincar. Uma Aventura Lego 2 pode não revolucionar a série, mas mantém a competência do original e continua servindo de lembrete que mesmo um produto com intenções publicitárias pode ser empolgante e criativo, diferente de propagandas cínicas como o completamente desprezível Emoji: O Filme (2017).

A trama se passa quase que imediatamente depois do final do primeiro. Depois que Finn (Jason Sand) convence o pai (Will Ferrell) a deixá-lo brincar com os legos, a irmã menor dele, Bianca (Brooklynn Prince, de Projeto Flórida) também entra na brincadeira. Como resultado, a cidade é destruída, Emmet (Chris Pratt), Lucy (Elizabeth Banks), Batman (Will Arnett) e todos os outros passam a viver em uma cidade pós-apocalíptica distópica que remete a filmes como Fuga de Nova York (1981) ou à franquia Mad Max. As coisas mudam quando a General Caos (Stephanie Beatriz) chega à cidade, sequestrando os amigos de Emmet e levando-os à galáxia Mana para o casamento da rainha Tuduki Eukiser’ser (Tiffany Haddish).

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Crítica – No Portal da Eternidade


Análise Crítica – No Portal da Eternidade


Review – No Portal da Eternidade
Há um estranhamento inicial em ver Willem Dafoe, um homem de 63 anos, interpretando o pintor Vincent Van Gogh em seus últimos dias, morrendo aos 37 anos. Não é nada que prejudique a imersão no filme ou existe qualquer problema na interpretação de Dafoe, só comento porque é uma escolha de casting bem curiosa.

A narrativa acompanha Van Gogh (Willem Dafoe) no período que ele passou morando no interior da França, no qual ele produziu um enorme número de pinturas, mas também foi acometido por sucessivos ataques de ansiedade, sendo eventualmente internado em um sanatório.

O diretor Julian Schnabel, do ótimo O Escafandro e a Borboleta (2007), parece tentar aqui construir uma experiência sensorial, nos fazendo ver o mundo do modo como Van Gogh via. Ele faz isso pelo uso de cores fortes e do contraste entre essas cores, criando imagens que parecem saídas diretamente de pinturas, como na cena em que o verde intenso das árvores é contrasta com os fortes tons de dourado da luz solar que banha suas copas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Drops – Brexit e Velvet Buzzsaw

Review Brexit e Velvet Buzzsaw


Nossa coluna de textos curtos fala hoje de dois filmes lançados diretamente para televisão. Brexit é uma produção da HBO sobre os bastidores do referendo que levou à decisão da Inglaterra deixar a União Europeia. Já Velvet Buzzsaw é um terror produzido pela Netflix protagonizado por Jake Gyllenhaal.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Crítica – Carmen Sandiego: 1ª Temporada


Análise Crítica – Carmen Sandiego: 1ª Temporada


Review – Carmen Sandiego: 1ª Temporada
A série animada Carmen Sandiego (1994 – 1999) seguia uma dupla de jovens detetives que viajava pelo mundo caçando a elusiva ladra que dava o título à animação. Ela era uma antagonista, mas uma figura envolta em mistério, que despertava fascínio por sabermos tão pouco a seu respeito, pelo visual icônico e pela esperteza dos seus assaltos. Este novo Carmen Sandiego mantem o clima de aventura, mas perde um pouco do suspense.

Carmen (voz de Gina Rodriguez) é uma órfã encontrada por agentes da V.I.L.E uma agência secreta de supercriminosos que se dedica a enriquecer roubando objetos valiosos. Ela é treinada desde cedo para ser uma hábil agente, sem saber o real propósito da organização. Quando finalmente descobre que está trabalhando para um grupo de ladrões, ela abandona a V.I.L.E e se dedica a recuperar os itens roubados por eles com a ajuda do hacker Player (voz de Finn Wolfhard, o Mike de Stranger Things).

Sim, a nova versão transforma a protagonista de vilã em heroína. Isso não é um problema em si, mas a transição tira dela muito de sua mística e senso de mistério, principalmente pelos dois primeiros episódios já começarem contando a origem da personagem. Os demais não tem muito desenvolvimento. Zack e Ivy, que animação original caçavam Carmen, agora são seus ajudantes, mas não há muito espaço para eles crescerem. Player, por sua vez, se limita a ser uma voz de auxílio. O principal incômodo vem do inspetor Deveraux, que é tão atrapalhado e equivocado em suas conclusões que o tempo todo me perguntei porque a agência ACME o recrutou.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Crítica - Vice


Análise Crítica - Vice


Review - Vice
Espera-se que uma biografia exiba algum esforço para entender quem foi o sujeito biografado, o que motivou suas ações ou como ele se tornou daquele jeito, o que moldou seu caráter, seus anos formativos. Vice, cinebiografia do ex-vice-presidente Dick Cheney, exibe uma ampla pesquisa sobre os fatos da vida do político e empresário, mas não parece interessado em entendê-lo.

A narrativa acompanha a trajetória política de Cheney (Christian Bale), do seu começo trabalhando com Donald Rumsfeld (Steve Carell) até o momento em que se tornou vice-presidente do governo de George W. Bush (Sam Rockwell), passando a exercer um poder e influência que nunca se viu de um vice.

O filme trabalha para mostrar como Cheney foi diretamente responsável por políticas que afetam os Estados Unidos até hoje, apontando-o como o responsável pela ascensão de figuras cada vez mais reacionárias como o criador da Fox News Roger Ailes ou mesmo do atual governo. Ao longo da projeção vemos como Cheney manipulou e dobrou o sistema político do país para deixá-lo subjugado a interesses corporativos e não ao bem comum, pensando mais no próprio enriquecimento e no de seus parceiros comerciais do que no bem da população.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Crítica – A Sereia: Lago dos Mortos


Análise Crítica – A Sereia: Lago dos Mortos


Review – A Sereia: Lago dos Mortos
O terror russo A Sereia: Lago dos Mortos mostra que as distribuidoras brasileiras não entendem a razão do público pedir filmes legendados. Imagino que os distribuidores pensam que espectadores que gostam de filmes legendados apreciam ler legendas. Essa é a única explicação para que A Sereia: Lago dos Mortos chegue aqui dublado em inglês com legendas em português ao invés de legendado com o áudio original em russo ou simplesmente dublado em português. Se alguém ainda não entendeu, algumas pessoas preferem legendado para ter acesso ao áudio original, então exibir cópias legendadas com áudio dublado em outro idioma não faz sentido.

A trama acompanha os noivos Roman (Efim Petrunin) e Marina (Viktoriya Agalakova), que estão prestes a casar. Roman ganha do pai uma antiga casa de campo como presente de casamento e ao chegar lá encontra uma sereia no lago aos fundos da propriedade. Vítima da maldição da criatura, ele precisa achar um jeito de quebrar o encanto.

A ideia de um terror calcado na figura da sereia poderia render algo diferente, mas o filme escolhe os caminhos mais convencionais possíveis. A produção ao menos faz algum esforço em criar uma atmosfera sinistra, em especial na sombria e decrépita casa de campo, o problema é que o texto nunca tem nada interessante a dizer ou mostrar sobre esses lugares ou personagens.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Lixo Extraordinário – O Sacrifício


Resenha  – O Sacrifício


Review  – O SacrifícioEm termos de produção, O Sacrifício é o melhor filme tratado até agora nessa coluna, já que é realmente um filme feito com orçamento profissional, diretor e elenco conhecidos e um relativo esmero na construção de sua atmosfera (A Reconquista até tinha atores conhecidos, mas sua produção era tosquíssima e parecia um seriado da década de 60). Ter uma boa produção, no entanto, não impediu que este filme acabasse sendo muito ruim. Felizmente ele é daquele tipo de filme ruim que constantemente descamba para a comédia involuntária e com isso se torna divertidíssimo de assistir.

O Sacrifício é um remake do clássico cult britânico O Homem de Palha (1973), embora não chegue aos pés do original. A trama é centrada em Edward (Nicolas Cage), um policial que um dia recebe uma carta de Willow (Kate Beahan), uma antiga ex-namorada pedindo ajuda para encontrar a filha perdida. Willow mora em uma isolada ilha na costa do Pacífico e diz que alguém da pequena comunidade deve ter sequestrado a filha dela. Assim, Edward viaja até a ilha e aos poucos percebe os segredos sombrios da pequena comunidade.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Crítica – Fyre Festival: Fiasco no Caribe


Análise Crítica – Fyre Festival: Fiasco no Caribe


Review – Fyre Festival: Fiasco no Caribe
Em 2017 o Fyre Festival foi vendido como o próximo grande festival de música. Mais que música, o festival seria uma experiência. As pessoas iriam para uma exótica ilha nas Bahamas, uma ilha que teria pertencido ao traficante Pablo Escobar, ficariam em casas de luxo de frente para o mar, conviveriam com celebridades e top models durante a estadia e, claro, assistiriam shows de grandes bandas. A questão é que o público pagante e até mesmo os convidados não receberam nada do que foi prometido.

Dirigido por Chris Smith, responsável pelo ótimo Jim & Andy: The Great Beyond (2017), o documentário faz uma crônica do desastre anunciado que foi a organização do evento. O festival, por sinal, deveria ser apenas uma plataforma para divulgar o aplicativo Fyre, uma espécie de Uber para artistas no qual o usuário poderia contratar diretamente artistas da música para shows privados.

Muito do tempo é usado para nos explicar quem é Billy McFarland, o empresário responsável pelo festival e o aplicativo Fyre. A narrativa nos mostra o histórico de diferentes empreendimentos fraudulentos de McFarland e como ele é mais um estelionatário do que empreendedor. Imagens de arquivo e depoimentos de funcionários que trabalharam com Billy na organização do festival ou na criação do aplicativo descrevem um sujeito que parecia não se importar nem um pouco com os problemas e potenciais riscos ao consumidor que eram comunicados a ele e constantemente mandava os empregados maquiarem esses problemas ao invés de resolvê-los. Em um dado momento um dos funcionários narra que Billy pediu que ele fizesse sexo oral em um oficial da alfândega das Bahamas para poder liberar mercadorias que estavam transportando para o festival.