sexta-feira, 31 de maio de 2019

Rapsódias Revistadas – Roberto Carlos em Ritmo de Aventura


Análise Crítica – Roberto Carlos em Ritmo de Aventura


Review – Roberto Carlos em Ritmo de Aventura
Lançado em 1968 e dirigido por Roberto Farias, este Roberto Carlos em Ritmo de Aventura é o último filme que esperava que tivesse um viés modernista ou iconoclasta. Afinal, pelo menos para alguém da minha idade, Roberto Carlos sempre foi sinônimo de coisas quadradas e de uma música que variava entre o romântico e o religioso. Sim, eu sabia da época da Jovem Guarda e que ele foi uma espécie de ídolo rock em sua juventude, mas ainda assim ele estava mais para a fase inicial dos Beatles, com seus terninhos e cabelos bem cortados, do que para Rolling Stones e qualquer atitude mais roqueira.

Sob a superfície, Roberto Carlos em Ritmo de Aventura parece ser aquele tipo de produção caça-níqueis feita apenas para faturar em cima da popularidade de um músico famoso. É isso, na verdade, mas não deixa de tentar ser criativo ao invés de fazer algo esquemático e previsível como eram os filmes do Elvis (com exceção de O Prisioneiro do Rock) ou mesmo os outros filmes protagonizados por Roberto Carlos: Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa e Roberto a 300 Quilômetros por Hora.

A verve irreverente e modernosa do filme é sentida já desde as primeiras cenas. Depois de uma apresentação musical, Roberto Carlos pega um telefone e liga para o diretor do filme, Roberto Farias. O cantor quer saber do diretor o que fará a seguir e o diretor informa que perdeu o roteiro do filme, avisando que a sala de onde Roberto Carlos está ligando está cheia de bandidos, que prontamente atacam o cantor.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Rapsódias Revisitadas – Encontros no Fim do Mundo


Análise Crítica – Encontros no Fim do Mundo


Review – Encontros no Fim do Mundo
Em Encontros no Fim do Mundo o diretor alemão Werner Herzog congrega juntos dois dos seus principais interesses: natureza e pessoas em situações-limite. Quando escrevi sobre Ao Abismo (2011), mencionei como Herzog constantemente tratava de pessoas em situações impossíveis e com as quais a maioria de nós nunca irá se defrontar e aqui ele volta a contar histórias envolvendo situações limite ao filmar suas conversas com os pesquisadores e funcionários da estação McMurdo, uma instalação de pesquisa localizada no Polo Sul.

Herzog filma o Polo Sul como um lugar de finais e começos. O final porque foi o último continente a ser tomado e ocupado pela raça humana, representando, como ele próprio diz, o fim da aventura humana ao redor do globo. Um fim que Herzog comenta com certa melancolia, apontando que talvez fosse melhor deixar alguns pontos em branco no mapa, preservando o mundo da interferência humana.

Essa ideia de que a natureza estaria melhor sem nós é percebida desde os primeiros momentos do filme quando ele narra os desconfortos da estação de pesquisa. Imaginamos que ele irá falar do frio ou dos poucos recursos, mas para Herzog os incômodos vem do que ele chama de “aberrações” na estação de pesquisa, como a existência de uma pista de boliche ou um estúdio de aeróbica, como se essas banalidades humanas deformassem e pervertessem a beleza e fascínio daquele lugar.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Crítica – Dilema: 1ª Temporada


Análise Crítica – Dilema: 1ª Temporada


Review – Dilema: 1ª Temporada
Fiquei curioso quando vi o anúncio deste Dilema. Um melodrama escrito por Mike Kelley, criador de Revenge, e estrelado por Renée Zellweger soava como a promessa de um novelão cheio de excessos e diversão como foram as duas primeiras temporadas de Revenge (que foi ladeira abaixo a partir da terceira, quando Kelley deixou a série). O produto final, no entanto, carece do senso de intriga, exagero e diversão que tornava Revenge tão legal de assistir.

A série acompanha Lisa (Jane Levy), uma jovem empreendedora do ramo biomédico que está em busca de financiamento para sua empresa conseguir lançar um tratamento revolucionário. Todos os possíveis investidores fecham as portas para Lisa, mas quando tudo parece caminhar para a sua falência, ela é abordada pela misteriosa Anne (Renée Zellweger), uma poderosa investidora que faz uma proposta pouco usual para Lisa. Anne diz que irá financiar por completo a empresa de Lisa, mas em troca irá querer passar uma noite com o marido dela, Sean (Blake Jenner), e os obriga assinar um contrato de que Sean não poderá falar nada a Lisa sobre a noite passada com Anne, caso contrário Anne tomará controle da empresa de Lisa.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Crítica – Godzilla 2: Rei dos Monstros


Análise Crítica – Godzilla 2: Rei dos Monstros


Review – Godzilla 2: Rei dos Monstros
Godzilla (2014) caía no erro de dedicar mais tempo aos personagens humanos do que ao monstro que dá título ao filme, que mal aparecia direito exceto por alguns minutos do fim. Este Godzilla 2: Rei dos Monstros, tem menos pudor em mostrar suas criaturas, mas continua a insistir demasiado em uma quantidade excessiva de humanos desinteressantes.

A trama é centrada na garota Madison (Millie Bobby Brown, a Eleven de Stranger Things), que perdeu o irmão durante os eventos do primeiro filme. Por conta disso, os pais de Madison se divorciaram e agora ela mora com a mãe, Emma (Vera Farmiga), que trabalha para a Monarch, a instituição que pesquisa e vigia os monstros gigantes. Emma desenvolve uma maneira de se comunicar com as criaturas, mas é sequestrada por um grupo de ecoterroristas que querem usar a invenção para despertarem o temível King Ghidorah para restaurar a natureza. Com o sequestro a Monarch procura Mark (Kyle Chandler), ex-marido de Emma, que ajudou a construir o dispositivo para que ele tente encontrá-la.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Crítica – Rocketman


Análise Crítica – Rocketman


Review – Rocketman
Não estava muito empolgado para conferir este Rocketman, biografia do cantor Elton John, todo material de divulgação dava a entender que seria mais uma cinebiografia quadrada e rasa nos moldes de Bohemian Rhapsody (2018). Felizmente, os trailers não fazem jus ao que é o material final e o resultado é um musical vibrante, que não se furta em tentar entender as contradições de seu protagonista.

A trama segue a vida de Elton (Taron Egerton) desde sua infância até sua idade adulta quando entra em reabilitação para tratar de seu vício em álcool e drogas. A narrativa é toda enquadrada como um relato de Elton em um grupo de terapia durante a sua reabilitação, o que permite ao filme seguir o fluxo de consciência e a subjetividade da visão dele acerca da própria história ao invés de um viés mais naturalista ou mimético.

Isso é mais evidente no modo como filme usa as canções. Enquanto na maioria das cinebiografias de músicos o uso das canções é bastante naturalista, aparecendo sempre dentro da diegese (do universo do filme) quando os personagens tocam ou cantam, aqui elas são usadas mais como em um musical tradicional. Aqui os personagens cantam para uma melodia que não está necessariamente dentro do universo fílmico, de certa forma rompendo o realismo narrativo para mergulhar na subjetividade de Elton John.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Crítica – Anos 90


Análise Crítica – Anos 90


Review – Anos 90
Anos 90 marca a estreia do comediante Jonah Hill como diretor e entrega um retrato sincero sobre juventude e o senso de deslocamento e alienação que acompanham a adolescência. A narrativa segue o jovem Stevie (Sunny Suljic), um garoto de treze anos que, em busca de um refúgio para sua tumultuada relação com o irmão mais velho, Ian (Lucas Hedges), e a mãe, Dabney (Katherine Waterston). Ele encontra esse refúgio ao se tornar amigo de um grupo de garotos mais velhos que trabalham em uma loja de skate e começa a se integrar a este grupo.

Hill constrói um olhar bem naturalista sobre a juventude, evitando julgar ou analisar demais o comportamento desses personagens, seguindo eles como se estivesse dirigindo um documentário observacional. Esse senso de naturalismo emerge também das performances dos atores que parecem nem estar sendo dirigidos e sim, jovens dos anos 90 que Hill pegou da rua graças ao uso de alguma máquina do tempo. Em especial Sunny Suljic, que evoca bem esse senso de solidão adolescente, da necessidade quase que desesperada de se encaixar em algum lugar, de encontrar a própria identidade e grupo para chamar de seu.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Rapsódias Revisitadas – Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um Conto de Vida


Análise Crítica – Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um Conto de Vida


Review – Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um Conto de Vida
Tanto em sua produção documental quanto ficcional, o cineasta Werner Herzog se interessa por sujeitos em situações-limite. Em pessoas tendo que lidar com decisões ou consequências que a maioria de nós não precisa conviver e que por vezes julgamos com muita facilidade. Isso se aplica a este Ao Abismo: Um Conto de Morte, Um Conto de Vida, no qual ele analisa a questão da pena de morte nos Estados Unidos e como isso afeta todos os envolvidos, do condenado à morte, passando pelos familiares das vítimas e os agentes penitenciários que trabalham diretamente com as execuções.

A narrativa é focada em Michael Perry, condenado a morte por triplo homicídio. Quando o filme começa e Herzog entrevista Perry pela primeira vez, ele está a uma semana de sua execução. O diretor poderia tentar humanizar o personagem para tentar fazer o público se compadecer por ele, visto que Herzog é notoriamente contrário a pena de morte. Outra coisa pela qual Herzog é conhecido é por sua honestidade brutal e ele a exibe já em seu primeiro contato com Perry, dizendo que não gosta dele, que não o acha inocente, mas que ainda o respeita em um nível humano ao ponto de não achar que ele deveria ser executado.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Crítica – Brightburn: Filho das Trevas


Análise Crítica – Brightburn: Filho das Trevas

Review – Brightburn: Filho das Trevas
O que aconteceria se o Superman fosse maligno? Se Jor-El não o tivesse enviado ao nosso planeta para ser um símbolo de esperança e sim um conquistador? São essas as perguntas que este Brightburn: Filho das Trevas tenta responder, ainda que também convoque para si outras estruturas familiares do terror

Na trama, um casal de fazendeiros no interior do Kansas, Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman), que encontram uma nave caída em suas terras e um bebê dentro da nave. Sem filhos, o casal decide adotar o bebê (eu disse que era basicamente o Superman). Anos mais tarde, com doze anos, o jovem Brendon (Jackson A. Dunn) começa a manifestar estranhas habilidades de força e velocidade, aos poucos se dando conta de que é diferente dos demais e percebendo que tem poder para fazer o que quiser.

É curioso que o filme não apenas pega a premissa básica do Superman, mas toma algumas decisões estéticas que remetem a filmes do personagem, em especial a leitura feita por Zack Snyder em O Homem de Aço (2013) e demais filmes do herói sob a batuta do diretor. Os minutos iniciais de Brightburn trazem o mesmo tipo de imagens bucólicas e planos na contraluz da pacata fazenda do Kansas que Snyder apresentava nos flashbacks de Clark em O Homemde Aço, até a paleta de cores é semelhante. A música remete bastante ao trabalho de Hans Zimmer no filme de Snyder em 2013.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Crítica – The Good Fight: 3ª Temporada


Análise Crítica – The Good Fight: 3ª Temporada


Review – The Good Fight: 3ª TemporadaQuando escrevi sobre as duas temporadas anteriores de The Good Fight, mencionei o aspecto combativo da série, de como ela não tinha papas na língua em falar de questões espinhosas de cunho social e político contemporâneos. A questão é que nessa terceira temporada toda essa combatividade acaba soando um pouco sensacionalista demais, principalmente quando mira diretamente na administração Trump, e muito cheio de si, como se a série tivesse certeza de que seu conteúdo será decisivo para derrubar o presidente ou garantir que ele não se reeleja.

Na trama, Kurt (Gary Cole), marido de Diane (Christine Baranski), acaba aceitando um cargo na atual administração, para a decepção de Diane, que teme que o marido esteja sendo usado como bobo da corte por Trump. Ao mesmo tempo a firma de Diane se envolve em um processo contra o inescrupuloso advogado Roland Blum (Michael Sheen), disposto a vencer mesmo tendo que mentir.

Como é de costume, a série trata de temas complexos como o racismo e a ascensão de grupos fascistoides. O episódio no qual Lucca (Cush Jumbo) é tratada primeiro como babá e depois como criminosa por estar andando na rua com o filho, que é branco, é um bom exemplo de como manifestações de racismo que podem parecer inicialmente inofensivas (confundi-la com uma babá) rapidamente escalam para algo perigoso.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Crítica – Entre Vinho e Vinagre


Análise Crítica – Entre Vinho e Vinagre


Review – Entre Vinho e VinagreEu já estou calejado quanto à decepcionante produção de longas metragens originais da Netflix. Sempre que algo parece minimamente promissor, o resultado final geralmente é algo morno. Ainda assim, fui esperançoso assistir Entre Vinho e Vinagre por ser a estreia da talentosa comediante e roteirista Amy Poehler como diretora. O produto final, porém, parece algo feito ao “estilo Adam Sandler de produção” no sentido de que todo filme parece ter sido feito para que Poehler saísse em uma viagem de férias com as amigas. Em si isso não teria problema se o filme rendesse algo bacana, mas do jeito que está parece que o elenco se divertiu bem mais que o espectador.

A trama segue um grupo de amigas que se reúne depois de anos para comemorar o aniversário de Rebecca (Rachel Dratch), que está fazendo cinquenta anos. Abby (Amy Poehler) alugou uma casa na região dos vinhedos da Califórnia para comemorar o aniversário da amiga e montou todo um itinerário da viagem, mas sua natureza controladora começa a incomodar as demais. Com o tempo, a alegria do reencontro vai dando vazão a ressentimentos antigos entre elas.