quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Crítica – Turma da Mônica: Laços


Análise Crítica – Turma da Mônica: Laços


Review – Turma da Mônica: Laços
Escrita por Lu e Victor Cafaggi, a graphic novel Turma da Mônica: Laços era uma afetuosa celebração do universo criado por Maurício de Souza e funcionava por aprofundar o que sabíamos sobre esses personagens sem esquecer a essência deles. Esta adaptação para os cinemas se manteve relativamente fiel ao material original, mas isso não significa que não tem sua parcela de problemas.

A trama começa quando Floquinho, o cachorro do Cebolinha (Kevin Vechiatto), desaparece e as crianças da Rua do Limoeiro se unem para ajudar Cebolinha a procurar Floquinho. Assim, Mônica (Giulia Benitte), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) partem em uma aventura por uma floresta próxima, mas acabam se perdendo, precisando também encontrar o rumo de casa.

A narrativa acerta não só na recriação com atores e cenários do universo concebido por Maurício de Souza e na graphic novel na qual o filme é mais diretamente inspirado como também no olhar mais simples e ingênuo sobre infância que essas histórias sempre tiveram. As crianças da narrativa brincam na rua sem precisar de muita coisa para se divertirem, muitas vezes usando a própria imaginação para conceber suas brincadeiras, sem depender diretamente de tecnologia ou brinquedos caros, valorizando o lúdico e a imaginação.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Crítica – Verão de 84


Análise Crítica – Verão de 84


Review – Verão de 84
Aplicando a conhecida premissa de “eu acho que meu vizinho é um assassino” a uma ambientação oitentista protagonizada por crianças, Verão de 84 funciona como uma mistura de Janela Indiscreta (1954) com Os Goonies (1985) e a nostalgia de Stranger Things. O resultado, no entanto, acaba sendo menor que a soma de suas partes e o que poderia ser uma aventura/suspense jovem se torna algo morno.

A trama acompanha Davey (Graham Verchere), um garoto de férias da escola que começa a suspeitar que o vizinho deles, o solitário policial Mackey (Rich Sommer) possa ser o serial killer que a polícia vem caçando a algum tempo. Ele conta suas suspeitas aos amigos Tommy (Judah Lewis), Woody (Caleb Emery) e Farraday (Cory Gruter-Andrew), unindo todos na investigação ao senhor Mackey. Além do quarteto, há também Nikki (Tiera Skovbyie) a bela garota da casa da frente que costumava ser babá de Davey e por quem o protagonista nutre uma certa paixão.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Rapsódias Revisitadas – Cantando na Chuva


Crítica – Cantando na Chuva


Review – Cantando na Chuva
Não é à toa que Cantando na Chuva seja um dos musicais mais celebrados de todos os tempos. Lançado em 1952, o filme é uma divertida e espetacular celebração de amor, música e do próprio ofício de fazer cinema. Com um elenco no auge de sua forma, é difícil não se deixar encantar por ele.

A trama se passa no final da década de 1920, no período de transição entre o cinema mudo e o cinema falado. O Cantor de Jazz (1927) acabava de ser lançado com um imenso sucesso financeiro ao finalmente apresentar uma projeção de vozes e canto sincrônica com a imagem. Diante do fascínio de público por filmes falados, a produtora de cinema na qual Don (Gene Kelly) e Cosmo (Donald O’Connor) trabalham resolve transformar sua mais recente produção em um filme falado. A companhia enfrenta problemas na transição, em especial pelo fato do par romântico de Don no filme, a atriz Lina Lamont (Jean Hagen), tem uma voz desagradável. A solução é chamar a aspirante a atriz Kathy (Debbie Reynolds) para dublar Lina, mas aos poucos Don vai se apaixonando por Kathy.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Crítica – Bacurau


Análise Crítica – Bacurau


Review – Bacurau
Fiquei um tempo em silêncio sentado na poltrona do cinema enquanto os créditos subiam ao fim de Bacurau, novo filme de Kleber Mendonça Filho, que aqui dirige ao lado de Juliano Dornelles. Os dois longas anteriores de Kleber, O Som ao Redor (2012) e Aquarius (2016) tinham me causado impacto semelhante e, em igual medida, fui deixado sem saber como organizar meu raciocínio para falar do filme ou o que dizer exatamente sobre ele, já que parecia ter coisa demais para eu dar conta em um texto. Ainda assim, tentarei.

A narrativa se passa em um futuro não especificado no qual as coisas pioraram bastante no Brasil. O ponto central da trama é a pequena cidade de Bacurau, que sofre com falta de água depois que o governo represou um rio próximo. Teresa (Barbara Colen) retorna à cidade para o funeral da mãe, dona Carmelita, mas em seu tempo lá coisas estranhas começam a acontecer: drones passeiam pelos céus, carros são baleados e pessoas são mortas sem explicação. Assim, Teresa e outras figuras proeminentes na cidade como Acácio (Thomas Aquino) e a médica Domingas (Sônia Braga) tentam entender o que está acontecendo.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Crítica – Anna: O Perigo Tem Nome


Análise Crítica – Anna: O Perigo Tem Nome


Eu queria muito ter gostado deste Anna: O Perigo Tem Nome. Muita coisa do que o diretor Luc Besson fez durante os anos noventa tem lugar cativo na minha memória cinéfila como Nikita: Criada Para Matar (1990), O Profissional (1994) e O Quinto Elemento (1997), então sempre desejo por vê-lo à frente de bons projetos, mas seus últimos filmes, apesar de carregarem promessa, acabaram sendo bem abaixo dos melhores momentos do realizador. Lucy (2014), apesar do carisma de Scarlett Johansson e da boa direção de Besson foi soterrado pelo peso da própria megalomania e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017) era prejudicado por um roteiro problemático e um casting equivocado de seus protagonistas. Este Anna poderia ter sido um retorno à forma ao trazer em si ecos de Nikita, mas o resultado é algo desconjuntado e anacrônico.

A trama começa na década de oitenta quando a jovem russa Anna (Sasha Luss) é recrutada como assassina pela KGB. Ela vai para Paris disfarçada como modelo e vive uma vida dupla como top model e matadora, eliminando os inimigos da Rússia. As atividades de Anna chamam a atenção do agente da CIA Lenny (Cillian Murphy), que força Anna a colaborar com os EUA. Assim, a espiã fica presa em um perigoso jogo duplo no qual tem que lutar pela própria sobrevivência e liberdade.

Chama a atenção uma certa inconsistência tonal no longa, em especial quando o filme contrapõe o cotidiano de assassina da protagonista com seu trabalho como modelo. Quando Anna está a serviço da KGB, o filme é sério, sisudo e sombrio, com a protagonista sendo mentalmente afetada por toda a violência ao seu redor, mas em seus momentos de modelo é tudo tão histriônico e caricato que parece algo saído da franquia Zoolander. Sim, Besson claramente parece querer parodiar o universo fashion, a questão é que as transições entre a seriedade psicológica e o pastiche são muito abruptas, dando a impressão de dois filmes diferentes e essas duas abordagens mais brigam entre si do que dialogam.

É curioso, no entanto, que ele tente criticar a objetificação promovida pelo mundo da moda ao mesmo tempo em que insista a todo momento em mostrar a nudez de sua protagonista e colocá-la em cenas de sexo (além de um eventual estupro). Soa contraditório reclamar da objetificação de um determinado ramo do entretenimento ao mesmo tempo em que ele próprio a expõe mais do que necessário, já que mesmo quando ficou claro que ela usa o sexo para manipular os homens ao seu redor, Besson continua insistindo em cenas e mais cenas dela tirando a roupa.

Algumas cenas de sexo até descambam para o humor involuntário, como o sexo violento entre Anna e o russo Alex (Luke Evans), que provavelmente foi pensado como algo de uma sensualidade feroz, mas termina como se estivéssemos assistindo ao coito de dois búfalos no cio. Atômica (2017), um filme que claramente remetia aos produtos noventistas de Besson, conseguiu equilibrar melhor sua combinação entre ação e sensualidade.

Outro problema é a insistência do filme em ficar indo e voltando no tempo para tentar criar surpresas e reviravoltas na esperança de convencer o público que esta é uma trama extremamente inteligente quando na verdade repete todos os clichês típicos de tramas de “espião versus espião”. O expediente de ficar “rebobinando” eventos quebra o ritmo da trama, interrompendo constantemente o fluxo e muitas vezes repetindo algumas cenas que já vimos, como se fossemos incapazes de lembrar algo de dez minutos atrás, para tentar mostrar a ação de uma perspectiva diferente e que as coisas não era como pensamos.

Como o filme abusa do recurso, ele se torna previsível e lá pela terceira vez que uma ação é cortada sem se resolver, sabemos que o filme irá eventualmente rebobinar até aquele momento para revelar uma surpresa que acaba sendo facilmente antevista (eu previ a maioria). Desta maneira, a trama não só fica bastante previsível, como também dá a impressão de um ritmo truncado, que resiste em progredir. Se tudo tivesse sido contado em ordem cronológica seria perfeitamente possível manter o suspense sem sacrificar a progressão da trama. Nesse ímpeto de encadear reviravoltas, os personagens acabam reduzidos a meros dispositivos de roteiro e mesmo a protagonista não consegue ir além do lugar comum da assassina que quer se libertar de sua vida de violência.

As cenas de ação exibem bastante violência e são muito bem conduzidas, com Bresson apresentando planos longos e com poucos cortes que conferem fluidez aos combates e as coreografias de luta exploram de maneira criativa as habilidades letais da protagonista, em especial uma luta dentro de um restaurante. Ainda assim, as cenas de ação são poucas e relativamente espaçadas os longo do filme, não sendo o bastante para fazer a experiência ser positiva.

Anna: O Perigo Tem Nome soa como um filme parado no tempo, algo que ficou perdido dentro de uma gaveta de estúdio e só agora foi encontrado e jogado nos cinemas. Apesar de algumas boas cenas de ação, o filme se perde em uma inconsistência tonal, personagens desinteressantes e uma trama que se julga mais esperta do que realmente é.

Nota: 4/10


Trailer

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Rapsódias Revisitadas – O Último Concerto


Crítica – O Último Concerto


Rapsódias Revisitadas – O Último Concerto
Juntos há cerca de vinte anos, os membros de um quarteto de cordas precisam confrontar a possibilidade do grupo acabar quando um deles descobre ter Parkinson. O quarteto, formado por Daniel (Mark Ivanir), Robert (Phillip Seymour Hoffman), Juliette (Catherine Keener) e Peter (Christopher Walken) passam a reexaminar as principais decisões tomadas nas últimas décadas quando Peter anuncia que em breve precisará deixar o grupo por conta de sua saúde.

A trama aborda o quão complexa é a dinâmica de um grupo musical deste tipo, já que não basta saber tocar, cada um precisa estar em sintonia com o outro, ter estilos e abordagens compatíveis e ser capaz de colocar o grupo em primeiro lugar. É um sistema social bastante delicado e um desarranjo em qualquer elemento põe os demais em desarmonia. É exatamente isso que acontece quando Peter anuncia sua doença, ao confrontar a mortalidade do amigo e o fim do grupo como conhecem, os outros três membros acabam entrando em conflito.

A possibilidade do fim do grupo levanta neles a ideia de que as escolhas que fizeram até então para manter o quarteto funcionando foram em vão e velhos ressentimentos começam a emergir, como o fato de que Robert nunca pode ser o primeiro violinista do grupo ou que Juliette deixou de lado sua paixão por Daniel para ficar com Robert apenas porque ele era mais conveniente. O elenco contribui para que sintamos o peso dos anos sobre o grupo, convencendo que são pessoas que convivem a muito tempo e compreendem muito bem os vícios e virtudes de cada um dos companheiros.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Crítica – Seis Vezes Confusão


Análise Crítica – Seis Vezes Confusão


Review – Seis Vezes Confusão
Eddie Murphy se tornou famoso ao estrelar comédias nas quais ele interpretava múltiplos personagens. Ele já fazia isso em Um Príncipe em Nova York (1988), no qual além de interpretar o protagonista, também interpretava alguns personagens secundários que frequentavam a barbearia em que o protagonista trabalhava. Murphy atingiu o auge desse recurso em O Professor Aloprado (1996) e a partir daí o dispositivo começou a se desgastar, com a continuação O Professor Aloprado 2 (2000) sendo bem inferior ao primeiro e depois o horrendo Norbit (2007) mostrou que não havia mais nada o que fazer no formato. Só esqueceram de avisar isso para Marlon Wayans que neste Seis Vezes Confusão tenta emular Eddie Murphy quando nem o próprio Murphy consegue fazer um filme desse tipo dar certo.

Na trama, Alan (Marlon Wayans) está prestes a se tornar pai, mas o fato de não ter família o deixa em dúvidas sobre construir a sua própria. Ele decide então procurar a mãe biológica e nesse processo descobre que possui outros cinco irmãos gêmeos (todos interpretados por Marlon Wayans). Bem, é isso, não há exatamente uma trama ou conflito central, com a narrativa usando a estrutura de road movie mostrando a viagem de Alan em busca dos irmãos como uma maneira de disfarçar o vazio narrativo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Crítica – Mindhunter: 2ª Temporada


Análise Crítica – Mindhunter: 2ª Temporada


Review – Mindhunter: 2ª Temporada
A primeira temporada de Mindhunter envolvia tanto pela sua construção do suspense das investigações quanto pelo modo como capturava o clima de incerteza da época com o crescimento de ataques de serial killers. Ao mostrar as dificuldades que os protagonistas tinham em ter seu trabalho sobre assassinos em série levado à sério, a trama também revelava certos preconceitos sociais quanto à natureza do crime. A segunda temporada continua a desenvolver muitos desses mesmos temas, expandindo-os assim como expande o desenvolvimento do personagem.

A trama continua do ponto em que a primeira encerrou, com o agente Ford (Jonathan Groff) tendo um ataque de pânico depois de entrevistar um serial killer. O agente Tench (Holt McCallany) recebe notícia de uma mudança de comando em Quantico e o novo encarregado é mais aberto aos novos métodos pesquisados pela unidade dos protagonistas, o que é lhes dá novas oportunidades, mas também novos desafios, já que o olhar do público está mais sobre eles. Ford, Tench e os demais tem uma nova oportunidade de testar seus métodos quando uma onda de assassinatos de crianças aterroriza a cidade de Atlanta. Além das dificuldades em encontrar o culpado, os protagonistas ainda precisam lidar com toda a politicagem envolvendo a investigação, já que as autoridades estão menos interessadas na busca pela verdade e mais nas aparências.

domingo, 18 de agosto de 2019

Crítica – Era Uma Vez em...Hollywood


Análise Crítica – Era Uma Vez em Hollywood

Review – Era Uma Vez em Hollywood
Desde Bastardos Inglórios (2009) que o diretor Quentin Tarantino se dedica a olhar a história através da arte. Ele já foi desde a Segunda Guerra Mundial, passando pelo período da escravidão em Django Livre (2012) e pela Guerra Civil dos EUA em Os Oito Odiados (2015) e agora, neste Era Uma Vez em...Hollywood, se volta aos Estados Unidos da década de 60, a ascensão dos serial killers e o fim do “sonho americano” consolidado no pós-guerra. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos foram a única grande potência razoavelmente intacta enquanto que boa parte dos países europeus estava em ruína. Isso permitiu que o país crescesse e expandisse sua influência mundial ainda mais, tanto termos econômicos quanto políticos, sociais e culturais.

Foi um período de bonança e prosperidade para o país, que parecia inatingível e projetava um ideal idílico de perfeição. Movimentos de contracultura apontavam para possíveis avanços sociais e uma melhora de vida em geral. Ao final dos anos 60, no entanto, as rachaduras nessa fachada perfeita começaram a aparecer e os assassinatos cometidos pelo “culto” liderado por Charles Manson quebraram a impressão de invulnerabilidade que o país construíra para si nas últimas décadas. Serial killers começavam a pipocar em diferentes cidades e a sensação era que os EUA não só deixara de ser seguro, como era tomado por uma violência que as pessoas não conseguiam compreender muito bem, algo mostrado na série Mindhunter.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Crítica – The Handmaid’s Tale: 3ª Temporada


Análise Crítica – The Handmaid’s Tale: 3ª Temporada


Review – The Handmaid’s Tale: 3ª TemporadaDepois de uma excelente primeira temporada e uma segunda um pouco inferior, mas que ainda conseguia manter o interesse, The Handmaid’s Tale chega a sua terceira temporada dando sinais de cansaço, com uma trama que parece andar em círculos e decisões questionáveis quanto ao desenvolvimento de suas personagens. O texto a seguir contem SPOILERS da temporada.

A trama começa no mesmo ponto em que o segundo ano parou, com June (Elizabeth Moss) decidindo ficar em Gilead depois de dar sua filha, Nichole, para Emily (Alexis Bledel) levar através da fronteira do Canadá. A ação não passa incólume pelo governo de Gilead, mas o comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) e sua esposa Serena (Yvonne Strahovski) conseguem convencer as autoridades da inocência de June na questão, colocando Emily como a única culpada.

O “sequestro” de Nichole gera um incidente internacional entre Gilead e o Canadá que permite compreender melhor como Gilead interage com o resto do mundo e o funcionamento da política internacional deste universo. Aliás, a temporada também cria imagens poderosas mostrando o que aconteceu em Gilead com antigos símbolos nacionais dos Estados Unidos, com o obelisco do monumento a Washington sendo substituído por uma cruz e a estátua do memorial a Lincoln sendo largada em ruínas, simbolizando como o sonho de igualdade naquele país foi destruído. O problema é que todo esse conflito é construído à revelia do desenvolvimento que foi feito dos personagens até então, especialmente Serena.