sexta-feira, 29 de maio de 2020

Crítica – Te Pego na Saída




Resenha Crítica – Te Pego na Saída

Review – Te Pego na SaídaVocês já se perguntaram como seria se o filme Te Pego Lá Fora (1987) substituísse seus protagonistas de alunos para professores? Não? Bem, problema seu, pois perguntando isso ou não este Te Pego na Saída é a resposta e não é lá uma resposta muito boa. Na trama, depois de fazer o bruto professor Strickland (Ice Cube) ser demitido, o manso professor Campbell (Charlie Day) é desafiado para uma briga por Strickland depois do horário da aula.

O primeiro problema é que toda a situação é bem difícil de embarcar. Eu sei que a comédia é um gênero marcado pelo exagero e pelo absurdo, mas mesmo esses absurdos precisam ser algo que precisamos acreditar que seria possível acontecer, como fazem filmes tipo Se Beber Não Case (2009) ou o recente Bons Meninos (2019). Aqui, no entanto, nada soa crível ou genuíno, com muitas situações parecendo falsas ao ponto em que a imersão do espectador é quebrada.

Quando somos apresentados ao agressivo Strickland, é difícil crer que alguém com a conduta agressiva dele sobreviveria no constante escrutínio de pais do sistema de educação pública dos EUA. Também é difícil embarcar na ideia que o aluno que Strickland ataca com um machado iria evitar dedurar o professor. O desafio feito a Campbell também não faz sentido. Se Strickland foi demitido por agredir um aluno, porque a escola o deixaria terminar o expediente? Seria mais provável que ele fosse colocado para fora do campus. Porque esperar até o fim da aula para dar uma surra em Campbell se ele poderia fazer isso assim que saem da sala do diretor? Se a informação da briga viraliza na internet em questão de minutos, como o diretor ou o resto das instâncias superiores parece não saber ou não faz nada para evitar?

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Crítica – O Estranho que Nós Amamos



Análise Crítica – O Estranho que Nós Amamos

Review – O Estranho que Nós AmamosDirigido por Sofia Coppola, este O Estranho que Nós Amamos é uma nova adaptação de um filme de mesmo nome lançado em 1971, que era baseado em um romance escrito por Thomas P. Cullinan. Não vi o original nem li o livro, então não sei dizer até que ponto essa versão da Sofia se aproxima ou se afasta. De todo modo, o que Sofia Coppola constrói aqui é uma competente metáfora para as relações entre masculino e feminino.

A trama se passa no período da guerra civil dos Estados Unidos e é centrada em um pequeno colégio interno para mulheres liderado por Miss Martha (Nicole Kidman). Um dia um soldado do norte, John McBurney (Colin Farrell), é encontrado ferido na floresta próxima ao casarão em que todas vivem. O soldado é levado para dentro da casa, onde Martha e as demais mulheres que ali habitam se comprometem a cuidar dos ferimentos dele. Aos poucos, algumas mulheres da casa vão se envolvendo com o soldado, o que começa a gerar problemas e ciúmes entre as garotas.

Poderia ser uma trama sobre rivalidade feminina e como todas as mulheres fazem de tudo para agarrar um homem, mas nas mãos de Sofia Coppola, o material acaba sendo virado ao avesso. O que a diretora faz é usar essa trama para falar de como a sociedade tem uma estrutura patriarcal, na qual as mulheres, mesmo em maior número, se preocupam mais em agradar um homem do que a si mesmas.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – O Homem Urso



Análise crítica – O Homem Urso

Review – O Homem UrsoLançado em 2005, o documentário O Homem Urso chama atenção não só pela história de Timothy Treadwell, que durante 13 anos seguidos passou o verão acampando em uma reserva de ursos pardos para viver entre os animais, mas pelo modo como o diretor Werner Herzog conta a história de Treadwell. Seria fácil, considerando as centenas de horas de material filmado pelo próprio Treadwell que Herzog teve acesso, pintar o sujeito simplesmente como um doido varrido caricato, na linha de alguma figura como o Joe Exotic de A Máfia dos Tigres (2020).

Seria fácil também Herzog guardar a informação da morte brutal de Treadwell e da companheira nas garras dos ursos que tentava proteger para o final de modo a criar uma reviravolta chocante. Ao invés disso, o diretor traz essa informação já no início, se preocupando mais em tentar entender quem era Treadwell e quais foram suas motivações para se arriscar ao ponto de eventualmente morrer. O olhar de Herzog é de empatia e respeito pelo seu personagem, no entanto, a linguagem direta e seca do diretor jamais romantiza o ator/ativista, deixando claras as suas falhas e também a ineficiência da militância dele pelos ursos.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Crítica – Um Crime Para Dois


Análise Crítica – Um Crime Para Dois

Review – Um Crime Para DoisDe certa forma, esse Um Crime Para Dois é bem parecido com Uma Noite Fora de Série (2010), já que ambos acompanham um casal em crise no relacionamento que acidentalmente se envolve em um crime e precisa correr para resolver a situação. Assim como em Uma Noite Fora de Série, o resultado deste Um Crime Para Dois é bem morno.

Na trama, o casal Leilani (Issa Rae) e Jibran (Kumail Nanjiani) está prestes a terminar quando acidentalmente atropelam um ciclista, que logo foge do local. Logo depois seu carro é tomado por um homem que se diz policial que persegue o ciclista em fuga e o atropela até matá-lo. Como o suposto policial deixa a cena no crime e as testemunhas que aparecem veem apenas Leilani e Jibran diante do cadáver, o casal foge e decidem eles mesmos descobrirem o que aconteceu para não serem presos por um crime que não cometeram.

Rae e Nanjiani tem uma boa química juntos e convencem como um casal que já está junto a algum tempo, com o início do filme sendo eficiente em nos mostrar como e porque os dois se apaixonaram. O carisma dos dois nos faz ter um mínimo de conexão com os personagens, mas não ajuda a afastar a natureza previsível da trama e dos diálogos, que obviamente caminham para que o sentimento deles se reacenda durante o momento de crise.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Crítica – Quantico: 3ª Temporada


Análise Crítica – Quantico: 3ª Temporada


Review – Quantico: 3ª Temporada
Quantico iniciou com uma ótima primeira temporada, permeada com personagens complexos e um bom ritmo no manejo da intriga e da tensão apesar da longa quantidade de episódios. A segunda temporada oferecia mais do mesmo, conseguindo se manter competente ainda que já mostrasse que ficar repetindo a mesma estrutura narrativa podia fazer a série se perder. Pois a terceira e última temporada até tenta se reinventar, o problema é que não faz nada de interessante, preferindo se reduzir a um procedural genérico. Aviso que o texto a seguir contem SPOILERS da temporada final.

Depois dos eventos da temporada anterior, Alex (Priyanka Chopra) vive escondida no interior Itália, reconstruindo a vida ao lado do fazendeiro Andrea (Andrea Bosca) e da filha dele. Quando Alex é encontrada por uma terrorista internacional que busca os códigos secretos que ela escondeu, a ex-agente precisa novamente se aliar a Ryan (Jake McLoughlin) e Owen (Blair Underwood) para resolver a questão. Ao final da missão eles decidem se reunir e montar uma equipe secreta do FBI para lidar com os casos mais complicados.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Rapsódias Revisitadas – Violeta Foi Para o Céu

Crítica – Violeta Foi Para o Céu

Review – Violeta Foi Para o Céu
Conhecia muito pouco sobre a trajetória da cantora e artista plástica chilena Violeta Parra. Sabia que era um nome importante da arte e cultura do Chile, mas nunca tive muito contato com a obra dela. Foi movido pela curiosidade de conhecer mais e também pelo meu interesse em filmes nos quais a canção popular desempenha um papel importante que fui conferir esse Violeta Foi Para o Céu, originalmente lançado em 2011.

A trama segue a trajetória de Violeta Parra (Francisca Gavilán), sendo enquadrada a partir de uma entrevista que Violeta dá para uma emissora de televisão. A partir da fala dela a trama viaja para os principais momentos da vida da artista. A montagem se vale da estrutura testemunhal que guia a trama para organizar as imagens como se de fato estivéssemos vendo o fluxo de consciência de Violeta transitando por suas memórias, muitas vezes misturando tempos, espaços e imagens da subjetividade da protagonista usando a música para dar unidade a essas descontinuidades imagéticas.

De certa forma são essas escolhas de estrutura e de montagem que conferem personalidade ao filme, já que em termos de narrativa o texto segue bem o formato padrão de biografias de músicos. Acompanhamos a infância, as dificuldades, o despertar de seu interesse artístico, a inspiração de seus sucessos, os momentos de triunfo, os desencontros afetivos e sua decadência. Não fosse o esforço de fazer o espectador mergulhar no fluxo de pensamento da protagonista, o resultado seria bem quadrado.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada



Análise Crítica – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª Temporada

Review – She-Ra e as Princesas do Poder: 5ª TemporadaDesde que escrevi sobre a primeira temporada falo como She-Ra e as Princesas do Poder supera as expectativas. Poderia ser só um caça-níqueis para lucrar em cima da nostalgia de uma animação oitentista cuja única razão de existir era vender brinquedos, mas ao invés disso entregou uma envolvente jornada, marcada por personagens complexos que raramente podem ser definidos por maniqueísmos fáceis. Isso se confirma nesta quinta e aparentemente última temporada, que encerra muito bem todas as tramas iniciadas desde o primeiro ano.

A narrativa começa no ponto em que o quarto ano acabou. O Mestre da Horda chegou a Etéria com toda sua frota e capturou Cintilante. Adora destruiu a Espada do Poder para que ninguém use o Coração de Etéria, uma arma poderosa que pode destruir o universo. Sem a espada, ela também não consegue mais se transformar em She-Ra, o que torna ainda mais difícil enfrentar o Mestre.

A temporada consegue criar um senso palpável de perigo constante, do Mestre da Horda como um oponente formidável, não só pelos números de sua horda, mas por sua inteligência em ser capaz de antecipar os movimentos dos adversários e também por sua capacidade de assimilar qualquer um em sua mente coletiva, efetivamente transformando aliados em inimigos. Há um senso palpável de perigo em cada batalha e um claro temor que as heroínas fracassem pelo fato do inimigo ser um oponente tão formidável.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste


Análise Crítica – Ingrid Vai Para o Oeste

Review – Ingrid Vai Para o OesteEstrelado por Aubrey Plaza, este Ingrid Vai Para o Oeste se apresenta como uma comédia ácida sobre os efeitos das redes sociais nas vidas das pessoas e sobre a saúde mental. O filme, no entanto, nunca vai além dos sensos comuns sobre o tema, nem vai muito fundo na acidez ou na comédia sombria.

Na trama, Ingrid (Aubrey Plaza) tem um colapso mental e é internada em uma instituição para se tratar. Ao sair, ela se torna obcecada pela influencer Taylor Sloane (Elizabeth Olsen) e decide mudar para Los Angeles para tentar se aproximar dela. Aos poucos Ingrid começa a se colocar no círculo social de Taylor, mas vai descobrindo que aquela vida de Instagram não é tão perfeita no mundo real.

Conforme vai conhecendo Taylor, Ingrid descobre que todas aquelas atividades aparentemente espontâneas, como comer em um determinado lugar ou usar roupas de uma marca específica, são na verdade postagens pagas pelas marcas para divulgar seus produtos e que Taylor não necessariamente usa aquelas coisas em seu cotidiano. Do mesmo modo, como fica evidente na cena em que Ingrid e Taylor vão tirar uma foto no deserto, vemos como as fotos aparentemente perfeitas das pessoas nas redes sociais são, na verdade, altamente produzidas.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Crítica – A Missy Errada



Análise Crítica – A Missy Errada

Review – A Missy ErradaA quarentena realmente já está começando a me afetar. Só isso explica eu ter me sujeitado a assistir este A Missy Errada, mais uma produção picareta da Happy Madison de Adam Sandler que não tem outra razão de existir a não ser dar um contracheque aos amigos de Sandler que praticamente não trabalham em nenhum filme além dos que Sandler produz, como David Spade, Rob Schneider, Nick Swardson, Jonathan Loughran ou a esposa e filho de Sandler, Jackie e Jared.

Também existe para mandar toda essa galera em uma viagem de férias a ser posta na conta do estúdio financiando a produção (nesse caso a Netflix), inserindo arbitrariamente na trama uma viagem para algum lugar paradisíaco ou exótico, tal como já tinha acontecido em Esposa de Mentirinha (2011), Juntos e Misturados (2014), Zerando a Vida (2016), Mistério no Mediterrâneo (2019) ou mesmo o cruzeiro inserido sem qualquer motivo em Cada Um Tem a Gêmea que Merece (2011). Enfim, como muitas produções de Sandler, existe para que o elenco se divirta sem qualquer esforço de divertir sua audiência.

Na trama, Tim (David Spade) aparentemente conhece a mulher dos seus sonhos, Missy (Molly Sims) em um aeroporto, mas como ambos tem voos a pegar trocam telefones para conversarem. Quando recebe uma mensagem de Missy, Tim desenvolve a conversa e tudo flui bem ao ponto que resolve convidá-la para que o acompanhe em uma viagem de trabalho que vai no Havaí. O problema é que ele estava conversando com outra Missy (Lauren Lapkus), uma mulher grudenta e histérica que ele conheceu em um encontro às cegas dias atrás. Agora ele precisará lidar com essa estranha e tomar cuidado para que ela não estrague sua chance de bajular o chefe e obter uma promoção.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crítica – Bons Meninos


Análise Crítica – Bons Meninos

Review – Bons Meninos
Eu me surpreendi positivamente com esse Bons Meninos. Parecia ser só uma espécie de cópia de Superbad (2007) com personagens um pouco mais jovens e sob o ponto de vista da trama até que é isso. Mas não imaginava que uma trama besteirol estrelada por personagens pré-adolescentes conseguisse criar situações tão absurdas e, ao mesmo tempo, conseguisse equilibrar todo esse besteirol com sentimento genuíno. Só para deixar claro, apesar de ter personagens pré-adolescentes, essa não é uma comédia para o público infantil.

A narrativa gira em torno do trio Max (Jacob Tremblay), Thor (Brady Noon) e Lucas (Keith L. Williams), garotos que acabaram de chegar na sexta série e esperam se tornar descolados. A oportunidade surge quando são convidados para a festa de um dos garotos populares, na qual Max vê a oportunidade de se declarar para Brixlee (Millie Davis), a menina de quem gosta. Chegar a essa festa não vai ser fácil e no caminho os garotos encontrarão muitas confusões.

É um fiapo de roteiro que poderia se transformar em algo entediante se não houvesse uma série de situações absurdas e criativas para preencher o percurso. Muito do humor vem da reação dos garotos a coisas do universo adulto que eles não entendem ou que analisam com um olhar muito ingênuo, como na cena em que encontram os objetos sexuais dos pais de Thor e acham que são armas, confundindo contas anais com um nunchaku, uma máscara de sadomasoquismo com uma máscara ninja ou uma boneca sexual ultra realista com um boneco de treinamento para primeiros socorros.