sexta-feira, 30 de abril de 2021

Crítica – Silk Road: Mercado Clandestino

 

Análise Crítica – Silk Road: Mercado Clandestino

Review – Silk Road: Mercado Clandestino
O diretor Tiller Russell realizou alguns documentários sobre histórias criminais insólitas como Operation Odessa (2018), mas Silk Road: Mercado Clandestino, sua primeira incursão no domínio da ficção, é simplesmente um desastre. Sem ritmo, com personagens vazios e uma visão problemática acerca dos pontos de vista de seu protagonista, é impressionante como praticamente tudo dá errado aqui.

A narrativa se baseia na história real de Ross Ulbricht (Nick Robinson), criador do site Silk Road, uma página de comércio eletrônico na deep web que servia de ponto de compra e venda para qualquer substância ilegal. Logicamente a venda de drogas via internet o coloca na mira das autoridades, em especial do agente Nick Bowden (Jason Clarke), um sujeito mentalmente instável que retornou recentemente ao serviço e foi colocado em uma função burocrática no departamento de crimes digitais, mesmo sem ter qualquer intimidade com computadores.

A história tinha potencial para discutir temas como a ineficácia da guerra às drogas ou questões relativas à liberdades individuais, mas, ao invés disso, parece apenas aderir acriticamente aos ideais libertários (não confundir com liberais, que é outra coisa) de seu protagonista. Ross não é um personagem, é uma palestra ambulante sempre falando dos méritos dos ideais libertários, sendo que os argumentos dele, sejam eles sobre economia ou sobre política, são facilmente refutados.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

 

Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)

Review - Falcão e o Soldado Invernal (Parte 3)
Depois de vários episódios construindo os dilemas de Sam em relação ao assumir o escudo do Capitão América, confrontando o personagem com o histórico de injustiças dos Estados Unidos ao mesmo tempo que mostrava os riscos de um Capitão América mais dedicado a obedecer ao governo do que a um senso de valores, Falcão e o Soldado Invernal chegou em seu último episódio com muitas pontas a amarrar. Algumas tramas se resolvem muito bem, embora outras não tenham o impacto que deveriam. Assim, nesta terceira e última parte me dedico a entender o que funciona e o que não se resolve tão bem no episódio final da série.

O desfecho

Assim como aconteceu com WandaVision, a série tem alguns problemas em seu episódio final. Ela lida muito bem com o arco do protagonista, mas resolve de maneira problemática as tramas dos demais personagens. As cenas com Sam são o ponto alto do episódio final, com ele finalmente decidindo assumir o manto de Capitão América e se revelando como tal. Além das cenas de ação que mostram as habilidades do personagem com o escudo e seu novo uniforme, o que mais o define como alguém que merece o posto é a maneira como ele questiona as autoridades para o tratamento dado aos Apátridas.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)

 Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)

Review – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 2)
A série Falcão e o Soldado Invernal me surpreendeu por ampliar nosso entendimento sobre o universo Marvel, em especial o estado do mundo após o estalo de Thanos ser desfeito, e também como o roteiro trabalha questões relativas à identidade nacional dos Estados Unidos. Ao longo da temporada os episódios analisam as contradições e injustiças do projeto de nação dos EUA, expondo as fragilidades do discurso do país sobre liberdade e justiça. Muito dessa discussão se dá no arco de Sam e seu percurso para aceitar o escudo do Capitão América, mas os antagonistas da série também desempenham um papel importante e é sobre eles que falaremos nessa segunda parte.

Os antagonistas

A série também acerta no seu tratamento aos antagonistas, evitando maniqueísmos simplórios e tratando esses personagens como figuras complexas. Seria fácil tornar John Walker um babaca sem qualquer aspecto positivo, afinal ele é o sujeito que recebeu o escudo do Capitão América de mão beijada, sem ter feito por merecer. Ainda assim, a série escolhe que o primeiro grande contato que temos com Walker seja em um vestiário, nervoso por assumir o posto de Capitão, sobrepujado pela pressão de existir à sombra de Steve Rogers. O vemos como um sujeito vulnerável e instável, que até quer fazer a coisa certa, mas não tem a temperança e a empatia de Steve. Wyatt Russell, por sinal, é ótimo em construir a personalidade arrogante e impertinente de Walker, fazendo dele o tipo de adversário que dá gosto de odiar.

terça-feira, 27 de abril de 2021

Crítica – Estados Unidos vs Billie Holiday

 

Análise Crítica – Estados Unidos vs Billie Holiday

Review – Estados Unidos vs Billie Holiday
É impossível dar conta da vida inteira de uma pessoa em uma biografia. Não há como dar conta 100% de tudo que a pessoa é e foi, principalmente em duas horas de duração de um filme. Assim, é inevitável fazer recortes sobre certos aspectos da vida da pessoa biografada, escolher um momento específico, uma relação específica, um aspecto específico da vida da pessoa. Este Estados Unidos vs Billie Holiday parece inicialmente ter um recorte bem definido do que quer mostrar da vida da cantora de jazz, mas logo se perde em várias direções, o que prejudica o filme.

A narrativa é focada na cantora Billie Holiday (Andra Day) e na perseguição do governo dos Estados Unidos contra ela por conta da canção Strange Fruit, que narra de maneira bastante gráfica os linchamentos cometidos contra pessoas negras no sul do país. Como não podiam simplesmente censurá-la, tentam prendê-la pelo uso de drogas e para isso usam o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes) para se aproximar dela e coletar informações.

O letreiro inicial deixa claro que isso é um exame sobre a perseguição do Estado contra a cantora por denunciar o racismo, no entanto, o filme nunca foca apenas nisso, se dividindo em várias outras direções falando dos relacionamentos afetivos da cantora, das dívidas e outros problemas. São muitas digressões que pouco acrescentam à trama e tem pouco impacto no que deveria ser o conflito principal.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)

 

Análise Crítica – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)

Review – Falcão e o Soldado Invernal (Parte 1)
Originalmente pensada para ser a primeira das séries do universo Marvel a passar no Disney Plus, Falcão e o Soldado Invernal acabou sendo adiado por conta de atrasos na produção e WandaVision foi a primeira. Assistindo a série, é possível entender porque ela foi escolhida para ser a primeira já que a narrativa ajuda a nos situar no estado do universo após os eventos de Vingadores: Ultimato (2019). Avisamos que o texto contem SPOILERS da série.

Na trama, Sam Wilson (Anthony Mackie) decide entregar o escudo de Steve Rogers (Chris Evans) para o governo, esperando que o item seja colocado em um museu. A decisão não agrada Bucky (Sebastian Stan), que acha que Sam deveria seguir os desejos de Steve e ficar com o escudo. Ao mesmo tempo, uma nova ameaça surge no horizonte na forma dos Apátridas, um grupo liderado por Karli Morgenthau (Erin Kellyman) que deseja retornar o mundo à situação de maior igualdade e distribuição de recursos que havia durante os cinco anos do estalo de Thanos. Além dos Apátridas, Sam e Bucky precisam lidar com John Walker (Wyatt Russell), um novo Capitão América nomeado pelo governo, um sujeito escolhido para a posição à revelia dos desejos de Sam ou Steve Rogers.

Conheçam os vencedores do Oscar 2021

Conheçam os vencedores do Oscar 2021

A 93ª cerimônia do Oscar aconteceu neste domingo, 25 de abril, e por conta da pandemia ainda foi um pouco diferente. O espaço foi um local mais aberto do que o habitual Teatro Dolby, as canções concorrentes não foram apresentadas durante a transmissão e ao invés de uma orquestra tivemos o DJ Questlove, tudo para diminuir contato e manter o distanciamento entre as pessoas. Em relação aos prêmios em si, Mank, que era o filme com maior número de indicações, saiu com apenas duas estatuetas. Já Nomadland levou vários prêmios importantes, com a diretora Chloe Zhao se tornando a segunda mulher a receber um Oscar de direção, além de ter vencido melhor atriz para Frances McDormand e o cobiçado prêmio de melhor filme. A grande surpresa da noite foi a vitória de Anthony Hopkins como melhor ator, já que muitos apostavam que iria postumamente para Chadwick Boseman. Apesar da surpresa, foi uma vitória merecida, já que Hopkins entregou uma das melhores performances de sua carreira.

 

Confiram a lista abaixo para ver os vencedores e os indicados em cada categoria:

 

domingo, 25 de abril de 2021

Conheçam os vencedores do Framboesa de Ouro 2021

 Vencedores do Framboesa de Ouro 2021

O Framboesa de Ouro, premiação que “homenageia” os piores filmes do ano, anunciou seus vencedores no sábado, 24 de abril. O maior vencedor foi Music, que levou três Framboesas, mas o prêmio de pior filme foi para o “documentário” Absolute Proof que apresentava uma série de teorias conspiratórias sem fundamento para tentar afirmar que a eleição de 2020 foi roubada por Joe Biden. Além deles, 365 Dias da Netflix levou pior roteiro e Dolittle venceu como pior remake ou sequência. Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores destacados em negrito.

 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Drops – Medalha de Bronze

 Análise Crítica – Medalha de Bronze


Review - The Bronze
Este Medalha de Bronze é estruturalmente uma narrativa sobre esporte bem típica, com a protagonista em uma jornada para se tornar uma versão melhor de si mesma, vencer uma competição e explorar seus traumas do passado. O que impede o filme de ser meramente uma coleção de lugares comuns é sua protagonista Hope Ann (Melissa Rauch, a Bernardette de The Big Bang Theory).

Na trama, Hope é uma ex-ginasta que continua vivendo da fama de ter vencido uma medalha de bronze nas Olimpíadas uma década atrás. Ela passa os dias vagando por sua cidade natal comendo e recebendo produtos de graça no comércio local. Quando sua antiga treinadora comete suicídio, Hope fica sabendo que ficará com a herança, mas para receber o dinheiro precisa treinar uma nova promessa local da ginástica, Maggie (Haley Lu Richardson).

Hope se comporta como uma criança mimada, achando que todos lhe devem reverência e obediência por conta de seu passado. A insistência da personagem andar vestida com o jaqueta da equipe de ginástica de dez anos atrás mostra como ela está parada nessa fase da vida. Se sentindo amargurada pela lesão que lhe tirou a chance de um futuro ainda melhor no esporte, ela se engaja em uma rotina autodestrutiva de consumo de drogas. Também apegado ao passado é o técnico interpretado por Sebastian Stan, que protagoniza, ao lado de Rauch, uma das cenas de sexo mais hilárias da história recente.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Crítica – Radioactive

 Análise Crítica – Radioactive


Review – Radioactive
Marie Curie foi um dos nomes mais importantes da ciência moderna, descobrindo dois novos elementos químicos e também os efeitos da radiação. Era questão de tempo até um filme contar sua história, de como ela mudou o mundo com suas descobertas e abriu caminho para as mulheres na ciência. Este Radioactive tenta fazer exatamente isso, mas se perde em um roteiro excessivamente fragmentado.

A trama segue Marie Curie (Rosamund Pike) desde o momento inicial de suas pesquisas, quando conheceu o marido, Pierre (Sam Riley), até a morte da cientista. Ao longo da trajetória conhecemos as contribuições de Marie para a ciência, bem como elementos de sua vida pessoal e os problemas que ela teve de enfrentar por ser uma mulher em um ambiente profissional dominado por homens.

A direção de Marjane Satrapi (responsável por Persépolis e As Vozes) tenta nos manter imersos no processo mental de Curie, com cortes rápidos que nos mostram os vários processos e experimentos entrecortados com imagens de átomos ou outros elementos gráficos que ajudem a tornar acessível a compreensão do trabalho da protagonista. Já era esperado um certo nível de exposição dos diálogos para falar sobre o trabalho científico de Marie, mas o filme traz uma exposição em excesso até para falar da vida pessoal da personagem.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Drops – Alma de Cowboy

 Análise Crítica – Alma de Cowboy


Review – Alma de Cowboy
Produção original da Netflix, Alma de Cowboy é uma história bem típica sobre conflitos entre pais e filhos que é elevada pela comunidade singular que retrata (quantos filmes sobre cowboys negros urbanos vocês conhecem?) e pela conexão dos dois protagonistas. Na trama, Cole (Caleb McLaughlin) é um adolescente problemático e, para tentar colocá-lo na linha, o envia para morar com o pai, Harp (Idris Elba), que vive em uma comunidade de criadores de cavalos na Filadélfia.

É claro que Cole inicialmente rejeitará essa nova vida e tentará fugir, é claro que inicialmente todo o trabalho que o pai o obriga a fazer cuidado de animais parece muito duro, mas após algum tempo Cole irá entender o sentido de tudo aquilo e aprenderá a importância do trabalho e de construir algo com as próprias. É daqueles filmes que a gente sabe absolutamente tudo que vai acontecer, todas as batidas e reviravoltas, já nos primeiros minutos. Ainda assim ele funciona.

Isso porque há um olhar muito afetuoso para a comunidade que retrata. Ao invés de explorar a ambientação como algo apenas insólito ou pitoresco, há um cuidado genuíno em nos fazer entender o modo de vida daquelas pessoas, das escolhas que fazem e o porquê daquilo tudo ser importante para o grupo. Outro mérito é o trabalho de Caleb McLoughlin (o Lucas de Stranger Things) e de Idris Elba. Caleb vende bem o senso de inadequação e frustração de Cole, que sempre se sentiu abandonado pelo pai, enquanto Elba traz um charme áspero a Harp, um sujeito que passou por uma vida dura, mas que amadureceu com essas experiências e, ao modo dele, tenta cuidar da comunidade ao redor. Os melhores momentos do filme nascem justamente dos embates entre os dois, repletos de emoção intensa, em especial na cena em que Harp justifica a escolha do nome do filho.