quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Crítica – Apresentando os Ricardos

 

Análise Crítica – Apresentando os Ricardos

Review – Apresentando os Ricardos
Eu sei que nem todo mundo aprecia o estilo de Aaron Sorkin, seja sua escrita, seja suas incursões recentes como diretor (eu gosto bastante de Os 7 de Chicago, embora não agrade muita gente), mas desde Questão de Honra (1992) que me deixo encantar pela verborragia característica de Sorkin. Digo isso porque apesar de gostar bastante do olhar dele e também do objeto deste Apresentando os Ricardos, o casal Lucille Ball e Desi Arnaz, não consigo afastar a sensação de que Sorkin talvez não tenha sido a melhor pessoa para lidar com esse projeto, seja como roteirista ou diretor.

A trama foca em uma semana específica da vida de Lucille (Nicole Kidman) e Desi (Javier Bardem), quando Lucille é acusada de ser comunista, o que põe em risco o programa do casal, I Love Lucy, a série de maior audiência da época. Enquanto seguem os preparativos para gravar o próximo episódio, o casal se preocupa com a carreira de Lucille e a possibilidade de ainda terem um programa quando tudo passar.

O recorte de uma semana por si só poderia servir como um microcosmo para todos os problemas do casal naquele momento, com as disputas por controle da série com a emissora, os problemas matrimoniais de Desi e Lucy e o fenômeno cultural que era I Love Lucy. O problema é que Sorkin não se contenta com esse recorte e passa a se deslocar temporalmente para o passado, mostrando o início da relação entre Desi e Lucy, e também para o futuro, mostrando os roteiristas da série, já idosos, comentando sobre a fatídica semana.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Crítica – Não Olhe Para Cima

 

Análise Crítica – Não Olhe Para Cima

Review – Não Olhe Para Cima
É curioso como nos acostumamos a viver é uma espécie de distopia maluca. Não me refiro apenas à pandemia, mas todo o contexto social e político que estamos vivendo. Isso se aplica aos Estados Unidos e também aqui no Brasil. Este Não Olhe Para Cima tenta falar um pouco sobre esse estado de coisas em que existimos, mas faz isso de maneira óbvia e excessivamente solene, quase como se esquecesse se tratar de uma comédia.

A trama começa quando a estudante de doutorado Kate (Jennifer Lawrence) descobre um enorme cometa em rota de colisão com a Terra. Seu professor, o Dr. Mindy (Leonardo DiCaprio) confirma os cálculos e alerta as autoridades, já que se nada for feito, todos morreremos em seis meses. O problema é que as autoridades e a mídia não estão exatamente preocupadas em resolver o problema.

Se em filmes catástrofe típicos é a união da humanidade contra os desafios da natureza que leva ao triunfo, aqui a humanidade é uma calamidade maior do que a própria natureza. O mundo não acaba porque lidamos com uma ameaça além de nossa capacidade, o mundo acaba porque somos idiotas. O que é mostrado aqui poderia ser entendido como uma metáfora para o negacionismo científico relativo às mudanças climáticas ou à pandemia, o problema é que enquanto sátira falta um senso de imprevisibilidade e caos para que a subversão cômica acontece e falta substância para funcionar plenamente como drama.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Crítica – The Witcher: Segunda Temporada

 

Análise Crítica – The Witcher: Segunda Temporada

Review – The Witcher: Segunda Temporada
A primeira temporada de The Witcher era uma competente introdução ao universo criado nos livros de Andrzej Sapkowski, mas se atrapalhava com uma estrutura narrativa de múltiplas temporalidades que tinha dificuldade de comunicar ao espectador onde e quando na trama estávamos, algo agravado pelo fato de que muitos personagens não envelhecem, dificultando essa localização temporal. Pois esta segunda temporada corrige esse problema, apresentando uma narrativa mais linear ainda que tenha alguma parcela de problemas.

A trama segue do ponto em que o ano anterior parou, com Geralt (Henry Cavill) encontrando Ciri (Freya Allan). Sabendo do perigo que Ciri corre, Geralt decide levá-la para Kaer Morhen, a fortaleza ancestral dos bruxos liderada por Vesemir (Kim Bodnia), mentor de Geralt. Ao mesmo tempo, Yennefer (Anya Chalotra) lida com as consequências da batalha em Cintra, tendo perdido seus poderes mágicos e buscando recuperá-los. Cientes do poder de Ciri, diferentes reinos e monarcas buscam encontrar a garota.

A companhia de Ciri beneficia o desenvolvimento de Geralt enquanto personagem, obrigando ele a se abrir mais, tirando o bruxo de seu estoicismo rígido cuja comunicação se dava principalmente através de grunhidos (algo que acabou virando meme). Assim, a temporada nos permite ver outra faceta de Geralt conforme ele começa a desenvolver uma preocupação genuína pela garota e eles começam a forjar uma relação de pai e filha. A presença de Vesemir também permite que vejamos outras facetas de Geralt conforme ele interage com o mentor a quem tem como pai.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Drops – Um Match Surpresa

 

Análise Crítica – Um Match Surpresa

Review Crítica – Um Match Surpresa
Apesar da palavra “surpresa” no título, essa é a última coisa que você irá encontrar em Um Match Surpresa. É aquela típica comédia romântica que faz pouco para sair do traçado dos filmes do gênero, sendo possível prever os principais desdobramentos já nos dez primeiros minutos, mas ainda assim maneja com habilidade e humor esses lugares comuns para funcionar como passatempo.

A trama é protagonizada por Natalie (Nina Dobrev), a típica personagem desajeitada e sem sorte no amor que aparece em 90% das comédias românticas. Ela conhece aquele que parece ser o homem dos seus sonhos em um aplicativo de namoro e decide surpreender o amado aparecendo na casa dele nas festas de fim de ano, mas chegando lá descobre que Josh (Jimmy O. Yang) na verdade estava usando a foto de um amigo bonitão no perfil, Tag (Darren Barnet). Assim, Natalie faz um acordo com Josh: ele a ajuda a conquistar Tag enquanto ela finge ser a namorada dele durante as festas.

É uma história bem previsível sobre dar uma chance ao amor e perceber que é a personalidade e a beleza interior que conta e de cara já sabemos como tudo isso vai se desenvolver. Ao menos a narrativa evita maniqueísmos fáceis ao não tornar Tag um babaca, fazendo dele alguém que é meramente incompatível com Natalie por mais que ela se force a participar dos interesses dele. Do mesmo modo, o texto resiste em transformar Owen (Harry Shum Jr), o irmão egocêntrico de Josh, em vilão. Sim, ele adora ser o centro das atenções, mas ao final as ações dele de investigar Natalie são também movidas por um cuidado genuíno por Josh e não apenas por um desejo mesquinho de roubar os holofotes.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Crítica – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada

 

Análise Crítica – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada

Review – Gavião Arqueiro: Primeira Temporada
Apesar de ser um membro fundador dos Vingadores, o Gavião Arqueiro até então não tinha recebido o devido holofote. Mesmo a Viúva Negra recebeu seu próprio longa-metragem e nada do Gavião ter seu momento de protagonismo. Isso muda com a primeira temporada de Gavião Arqueiro, que não apenas aprofunda o que sabemos sobre Clint Barton, como abre caminho para sua sucessora ao nos apresentar a Kate Bishop.

Na trama Clint (Jeremy Renner) está em Nova Iorque com os filhos para compras de Natal e prestes a retornar à fazenda na qual vive com a família. Problemas surgem quando a jovem Kate Bishop (Hailee Steinfeld) esbarra em um leilão ilegal que vende itens retirados do complexo dos Vingadores depois da batalha contra Thanos em Vingadores: Ultimato (2018). Entre os itens estão um relógio que pertence a alguém que Clint conhece e o uniforme de Ronin usado por Clint durante o período do Blip. Sem saber que Clint era o Ronin, Kate sai usando o uniforme pelas ruas da cidade, o desperta hostilidade de vários criminosos, então Clint precisa encontrá-la e confrontar seu passado como Ronin.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Crítica – Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar

Análise Crítica – Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar

Review – Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar
Eu perdi as contas de quantas vezes vi os dois primeiros Esqueceram de Mim na Sessão da Tarde e até gostava do inferior terceiro filme. A franquia ainda recebeu mais dois filmes, ambos muito ruins. Depois de anos no limbo resolveram ressuscitar o que é basicamente “Jogos Mortais para crianças”. Com um novo astro mirim, Archie Yates, saído de um filme de sucesso (Jojo Rabbit) e um elenco repleto de bons comediantes, tudo parecia dar certo para este Esqueceram de Mim no Lar, Doce Lar. Só que deu errado. Deu muito errado, errou feio, errou rude.

Na trama, Max (Archie Yates) fica sozinho em casa no Natal depois que a família esquece ele lá ao sair correndo para uma viagem para o Japão. Em casa, Max aproveita a solidão até que o lugar é invadido por Pam (Ellie Kemper) e Jeff (Rob Delaney), pais de família que estão prestes a perder a casa e estão tentando recuperar uma boneca valiosa que foi roubada da casa deles. O casal acredita que o item está na casa de Max, daí a tentativa de roubá-los.

De cara já se percebe que a ideia é humanizar os ladrões, que agora tem uma motivação compreensível e, na verdade, não são exatamente ladrões, já que estão tentando recuperar algo que pertence a eles. Isso já seria motivo o suficiente para que toda a disputa não funcione, afinal Max não esta se defendendo e torturando ladrões sádicos que querem lhe fazer mal como acontecera com Kevin (Macaulay Culkin) nos primeiros filmes. Ver pessoas boas que estão apenas querendo manter um teto sobre a cabeça dos filhos ter os dentes quebrados por uma criança sádica acaba não tendo efeito cômico, já que a comédia exige o rebaixamento e ridicularização do alvo da piada e o roteiro tenta fazer isso com pessoas cujas circunstâncias já os coloca em posições rebaixadas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Crítica – A Máfia dos Tigres: A História de Doc Antle

 

Análise Crítica – A Máfia dos Tigres: A História de Doc Antle

Review – A Máfia dos Tigres: A História de Doc Antle
Depois da péssima segunda temporada de A Máfia dos Tigres não estava com muita disposição de conferir este...err...spin off da franquia. Só o fiz pela curta duração, de apenas três episódios, e também por ele ser inteiramente centrado na figura de Doc Antle, um dos sujeitos mais bizarros a aparecer na primeira temporada.

Além de denúncias de pedofilia, de cooptar as funcionárias de seu parque para um estranho culto/harém ao seu redor, Antle me chamava atenção pela linguagem corporal perturbadora. Ele sempre falava com uma aparente calma e alegria, com um sorriso tão rígido no rosto que parecia paralisado naquela posição. Bastava alguém dizer algo que Doc não gostava, que sua voz imediatamente se tornava agressiva e descontrolada apesar de um evidente esforço de manter no rosto a expressão plácida e sorridente, o que lhe fazia parecer um completo lunático.

Essa minissérie derivada vai mais à fundo no passado de Antle, explicando como ele estruturou seu harém/seita a partir de suas vivências em uma comunidade alternativa de yoga no interior dos Estados Unidos a partir da década de 60. Através de testemunhos e imagens de arquivo, o documentário mostra como desde jovem Antle estava metido com seitas e também em se relacionar com menores de idade, inclusive levando algumas delas de casa se autorização dos pais (na prática, sequestro). Os vários testemunhos revelam um padrão consistente de abusos e manipulação dessas mulheres, algo que mesmo denunciado para o guru que liderava a seita da qual Antle pertencia não parecia haver consequência (inclusive porque o próprio guru também é acusado de abusos sexuais).

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Crítica – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

 Análise Crítica – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa


Review – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa
As primeiras informações sobre Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa me deixaram preocupado. Afinal, a Marvel estava basicamente adaptando uma das piores histórias recentes do herói nos quadrinhos, o arco em que ele pede a Mephisto para apagar a memória de todos a respeito de sua identidade, apenas substituindo aqui Mephisto pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch). Retificar a continuidade (ou retcon) é um dispositivo dramatúrgico preguiçoso, que “reseta” um personagem por alguma conveniência de roteiro e tira todo o peso do que veio antes. Neste novo filme do teioso a Marvel parecia usar da nostalgia, trazendo vilões (e outros personagens) de filmes passados, para nos fazer esquecer que estamos diante de um retcon covarde.

Tendo visto o filme, posso dizer que alguns dos meus temores estavam equivocados, enquanto outros se confirmaram. A primeira coisa é que esses personagens de outrora não estão ali apenas por um nostalgismo rasteiro, a presença deles aqui tem muito a dizer sobre a jornada de Peter Parker (Tom Holland), o que está no cerne do Homem-Aranha e qual é a essência do heroísmo. Todo mundo meio que concorda que um herói é aquele que faz o bem, no entanto, a ideia de qual bem é esse que um herói faz pode variar. Ao colocar o atual Peter diante da encruzilhada de enviar antigos vilões para a morte certa, a trama nos lembra que um herói é alguém que, acima de tudo, salva pessoas, mesmo vilões. A noção de Peter se arriscar por indivíduos que querem matá-lo também dialoga com os temas de poder e responsabilidade que sempre acompanharam o personagem.

Crítica – A Última Noite

 

Análise Crítica – A Última Noite

Review Crítica – A Última Noite
Misturando o otimismo de películas natalinas com o niilismo de filmes sobre o iminente fim do mundo, este A Última Noite é certamente uma mistura insólita. A diretora Camille Griffin tenta construir uma trama sobre celebrações e encerramentos, mas nem tudo se encaixa como deveria.

A narrativa começa com o casal Nell (Keira Knightley) e Simon (Matthew Goode) esperando um grupo de amigos para as comemorações de Natal em sua casa de campo. Aos poucos o filme vai dando indícios de que há algo estranho no ar e logo descobrimos a razão. A atmosfera se tornou tóxica por conta das mudanças climáticas, gerando tornados e tempestades de substâncias mortais. Para evitar uma morte lenta e sofrida, a família de Nell e seus amigos decidiram tomar os comprimidos distribuídos pelo governo para terem uma morte sem sofrimento.  A comemoração de Natal é, portanto, a última noite deles neste mundo. O problema é que Art (Roman Griffin Davis, filho da diretora), o filho mais velho de Nell, não aceita de bom grado a ideia do suicídio coletivo.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Crítica – Top of the Lake: China Girl

Análise Crítica – Top of the Lake: China Girl

Review – Top of the Lake: China Girl
Originalmente lançada em 2017, Top of the Lake: China Girl só chegou oficialmente ao Brasil neste 2021 via HBO Max. Continuação da minissérie Top of the Lake, lançada em 2013 e criada por Jane Campion, essa segunda história da detetive Robin Griffin tenta tocar em temas similares ao original, em especial em questões ligadas à violência contra a mulher, no entanto acaba não tendo o mesmo impacto.

Na trama, Robin (Elizabeth Moss) está de volta a Sidney, Austrália, depois dos eventos passados na Nova Zelândia na primeira temporada. Trabalhando como detetive, Robin investiga o assassinato de uma jovem asiática, encontrada morta dentro de uma mala jogada no mar. O crime se complica quando a detetive descobre que a jovem estava grávida de um bebê sem nenhum marcador genético seu, ou seja, provavelmente servia de barriga de aluguel. Ao mesmo tempo, Robin lida com a tentativa de aproximação de Mary (Alice Englert), filha que ela teve na juventude fruto de um abuso sexual. Mary namora o estranho Alexander (David Dencik), um sujeito que está envolvido em negócios escusos, com os pais adotivos de Mary reprovando a relação.