quinta-feira, 31 de março de 2022

Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

 

Análise Crítica – Nossa Bandeira é a Morte

Review – Nossa Bandeira é a Morte
Confesso que fui pego desprevenido por Nossa Bandeira é a Morte, série de piratas produzida pela HBO Max. De início parece apenas uma paródia com os clichês de filmes de piratas, mas conforme a temporada avança, ela cava mais fundo das ideias por trás da mitologia desse tipo de narrativa e vira tudo do avesso.

A trama é centrada em Stede Bonnet (Rhys Darby) um homem que deixou para trás uma vida infeliz pelo sonho de se tornar pirada. O problema é que Bonnet, apesar de seu otimismo e boa vontade, é completamente incompetente como pirata, mal conseguindo sobreviver aos perigos dessa vida não fosse o auxílio dos excêntricos membros de sua tripulação. Eventualmente ele cruza com o temível Barba Negra (Taika Waititi), que fica intrigado porque alguém da alta sociedade como Stede viraria pirata.

Stede, por sinal, é baseado em uma pessoa real. Um dono de fazenda de Barbados que largou esposa e filhos para se tornar pirata sob a alcunha de “o pirata cavalheiro”, o Stede Bonnet real é basicamente uma nota de rodapé na história da pirataria. Seria fácil a série reduzi-lo ao ridículo (e isso é feito em muitos momentos), mas o personagem nunca se limita a isso.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

 

Análise Crítica – A Pior Pessoa do Mundo

Review – A Pior Pessoa do Mundo
Em tese, A Pior Pessoa do Mundo é um filme que não deveria dar certo. Mudanças bruscas de tom e de regime estético tinham tudo pra tornar o filme uma bagunça incoerente. No entanto, o diretor norueguês Joachim Trier transforma em força a bricolagem inconstante que estrutura a trama, construindo um retrato agridoce sobre amadurecimento.

A trama acompanha Julie (Renate Reinsve), uma jovem que se aproxima dos trinta anos e se sente à deriva na vida, mudando constantemente de carreiras e prioridades. Em uma narrativa dividida em capítulos, o espectador acompanha Julie ao longo de quatro anos de sua vida enquanto ela tenta se encontrar profissionalmente e afetivamente em parceiros como o cartunista Aksel (Anders Denielsen) e Eivind (Herbert Nordrum).

Renate Reinsve traz um olhar inquieto a Julie, como alguém que sempre parece em busca de algo, de um ponto focal em que possa se fixar. É alguém movida por um desejo de construir uma vida para si ao mesmo tempo em sente a ansiedade de ver todos ao seu redor parecem já estabilizados e seguros de seus rumos de vida. Julie não tem nada disso, um sentimento que muitas pessoas na faixa dos trinta conseguem simpatizar conforme sabemos que não somos mais jovens e já deveríamos saber muito sobre nós mesmos ao mesmo tempo em que não nos sentimos adultos ou plenamente no controle de nossas vidas.

terça-feira, 29 de março de 2022

Crítica – Fantasmas do Passado

 

Análise Crítica – Fantasmas do Passado

Review – Fantasmas do Passado
Queria ter gostado mais deste Fantasmas do Passado, longa dirigido por Mariama Diallo sobre tensões raciais. Não que seja um filme ruim, mas não chega a aproveitar plenamente as ideias que apresenta. A trama se passa em uma universidade de elite no interior dos Estados Unidos. É um espaço predominantemente branco e isso afeta as duas protagonistas. De um lado Gail (Regina Hall) é a primeira mulher negra a assumir um cargo na alta gestão da faculdade, como diretora de assistência estudantil. Do outro está Jasmine (Zoe Renee), uma jovem negra recém ingressa na faculdade, cujo dormitório foi, no passado, um local em que a primeira estudante negra da faculdade cometeu suicídio.

A narrativa constrói bem o desconforto racial experimentado pelas duas personagens, que em seu percurso pela instituição são constantemente lembradas do passado racista daquele lugar e como pessoas como elas eram tratadas como alguém inferiores. Mais que isso, a jornada de ambas é ter esse desconforto relativizado por outros personagens, que acham que a presença delas ali já mostraria por si só como aquele espaço está longe de ser racista.

segunda-feira, 28 de março de 2022

Crítica – Drive My Car

 

Análise Crítica – Drive My Car

Review – Drive My Car

Alguns filmes nos causam dificuldades de falar sobre ele. Este Drive My Car, dirigido por Ryusuke Hamaguchi, é um desses filmes. São tantas sutilezas, tantos pequenos elementos que se juntam para produzir uma catarse sobre luto e falta de comunicabilidade que fico com receio de deixar algo de fora e não fazer justiça à produção.

A trama acompanha o ator e dramaturgo Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima). Depois da morte da esposa, Kafuku é chamado para uma residência em um teatro em Hiroshima para uma montagem da peça Tio Vânia, de Anton Chekov. Lá ele é colocado sob os cuidados da motorista Misaki Watari (Toko Miura), apesar de dizer que pode dirigir sozinho. Aos poucos um laço de amizade see forma entre eles conforme trocam experiências sobre o que perderam.

Hamaguchi conduz as três horas de projeção em um ritmo bem deliberado, dando tempo para que possamos perceber cada gesto, cada olhar, cada pequeno elemento que parece casual, mas que diz muito sobre a vida interna dos personagens. Um exemplo é como o enquadramento se detem sob o olhar perdido de Kafuku enquanto ele transa com a esposa, mostrando a desconexão entre os dois. Do mesmo, o plano com as mãos de Kafuku e Watari segurando seus cigarros acima do teto solar aberto do carro revela a cumplicidade que se formou entre os dois.

Conheçam os vencedores do Oscar 2022

 


A 94ª edição do Oscar aconteceu ontem, 27 de março, com No Ritmo do Coração vencendo o prêmio principal de melhor filme, além das categorias de roteiro adaptado e ator coadjuvante. Duna foi o filme a levar mais prêmios, com seis estatuetas. Em geral foi uma cerimônia cheia de vitórias previsíveis.

A questionável decisão de não apresentar certos prêmios técnicos durante a transmissão ao vivo não apenas desprestigiou os profissionais indicados, como sequer serviu ao propósito pretendido de diminuir o inchado tempo da cerimônia, já que a premiação deste ano durou mais do que a do ano passado. No fim, a única coisa inesperada foi o tapa que Will Smith desferiu em Chris Rock após o comediante ter ofendido a aparência de Jada Pinket-Smith, esposa de Will.

Confiram abaixo a lista completa de indicados com os vencedores destacados em negrito:

 

domingo, 27 de março de 2022

Conheçam os vencedores do Framboesa de Ouro 2022

 

Razzies 2022 Winners

No sábado, 26 de maio, foram divulgados os vencedores do Framboesa de Ouro 2022, premiação que “celebra” os piores filmes do ano. Entre os mais premiados estava a versão da Netflix para Diana: O Musical, que venceu cinco Framboesas incluindo pior filme, além de Space Jam: Um Novo Legado, que levou prêmios como os de pior ator para LeBron James. O único outro filme a vencer foi Casa Gucci, que levou na categoria de ator coadjuvante pelo equivocado trabalho de Jared Leto.

Sinceramente, concentrar os prêmios em praticamente dois filmes soa mais como birra, já que outras produções piores mereciam igual destaque e foram completamente esquecidas, a exemplo de Conquista que merecia mais indicações do que a menção a Ruby Rose como pior atriz. Confiram abaixo a lista completa de indicados, com os vencedores destacados em negrito

 

 

Pior filme

 

Diana: O Musical (Vencedor)

Infinite

Karen

Space Jam: Um Novo Legado

A Mulher na Janela

 

 

Pior ator

 

Scott Eastwood, por Dangerous

Roe Hartrampf, por Diana: O Musical

LeBron James, por Space Jam: UmNovo Legado (Vencedor)

Ben Platt, por Querido Evan Hansen

Mark Wahlberg, por Infinite

 

 

Pior atriz

 

Amy Adams, por A Mulher na Janela

Jeanna de Waal, por Diana: O Musical (Vencedor)

Megan Fox, por Meia-Noite no Switchgrass

Taryn Manning, por Karen

Ruby Rose, por Conquista

 

 

Pior atriz coadjuvante

 

Amy Adams, por Querido Evan Hansen

Sophie Cookson, por Infinite

Erin Davi, por Diana: O Musical

Judy Kaye, por Diana: O Musical (Vencedor)

Taryn Manning, por Every Last One of Them

 

 

Pior ator coadjuvante

 

Ben Affleck, por O Último Duelo

Nick Cannon, por Os Renegados

Mel Gibson, por Dangerous

Gareth Keegan, por Diana: O Musical

Jared Leto, por Casa Gucci (Vencedor)

 

 

Pior performance de Bruce Willis

 

Bruce Willis, por Emboscada

Bruce Willis, por Apex

Bruce Willis, por A Fortaleza

Bruce Willis, por Deadlock

Bruce Willis, por Meia-Noite no Switchgrass

Bruce Willis, por Sobreviva ao Jogo

Bruce Willis, por Out of Death

Bruce Willis, por Invasão Cósmica (Vencedor)

 

 

Pior casal

 

Qualquer ator & qualquer número musical mal escrito ou coreografado (Diana: O Musical)

LeBrown James & qualquer personagem de desenho animado que ele tenta driblar (Space Jam: Um Novo Legado) (Vencedor)

Jared Leto & sua maquiagem pesada de látex, suas roupas feias ou seu sotaque ridículo (Casa Gucci)

Ben Platt & qualquer outro personagem que finge que ele cantar 24h por dia é normal (Querido Evan Hansen)

Tom & Jerry (Tom & Jerry)

 

 

Pior remake, plágio ou sequência

 

Karen (remake não intencional de Cruella)

Space Jam: Um Novo Legado (Vencedor)

Tom & Jerry

Twist (remake hip hop de Oliver Twist)

A Mulher na Janela (plágio de Janela Indiscreta)

 

 

Pior direção

 

Christopher Ashley, por Diana: O Musical (Vencedor)

Stephen Chbosky, por Querido Evan Hansen

“Coke” Daniels, por Karen

Renny Harlin, por Os Renegados

Joe Wright, por A Mulher na Janela

 

 

Pior roteiro

 

Joe DiPietro & David Bryan, por Diana: O Musical (Vencedor)

“Coke” Daniels, por Karen

Kurt Wimmer & Robert Henny, por Os Renegados

John Wrathall & Sally Collett, por Twist

Tracy Letts, por A Mulher na Janela

 

sexta-feira, 25 de março de 2022

Crítica – De Rainha do Veganismo a Foragida

 Análise Crítica – De Rainha do Veganismo a Foragida


Review – De Rainha do Veganismo a Foragida
Depois de O Golpista do Tinder, esta minissérie documental De Rainha do Veganismo a Foragida é mais uma história de uma mulher vítima de um golpista delirante que teve a vida arruinada, embora aqui a situação seja um pouco mais complexa. A trama narra a trajetória de Sarma Melngailis, chef que ganhou notoriedade no cenário gastronômico de Nova Iorque ao abrir um restaurante todo focado em comida vegana crua. Rapidamente ela se tornou referência de um novo modelo de alimentação, atraindo atenção midiática, celebridades hollywoodianas e dando início a algo que poderia se expandir em uma grande multinacional.

Como essa é história de crime, nem tudo correu como esperado. As coisas mudam quando Sarma conhece o misterioso Shane, um sujeito que diz trabalhar para a inteligência militar dos EUA, e que se apaixona por Sarma. Os dois começam a se relacionar e Shane começa a exigir “provas de lealdade” por parte de Sarma para garantir que ela é confiável e não vai por o trabalho dele em risco. Logicamente essas provas de lealdade envolvem transferir dinheiro e passar coisas para o nome de Shane, que promete devolver esses valores e ainda dar mais dinheiro para Sarma conseguir comprar de volta o restaurante das mãos dos investidores.

quinta-feira, 24 de março de 2022

Crítica – Sorte de Quem?

 

Análise Crítica – Sorte de Quem?

Review – Sorte de Quem?
Dirigido por Charlie McDowell, responsável pelo bacana e pouco visto Complicações do Amor (2015), este Sorte de Quem? está longe de ser um típico suspense sobre invasão doméstica. Na verdade, quem assistir o filme procurando um suspense padrão provavelmente vai se decepcionar, já que McDowell está mais interessado na colisão de personalidades e interesses de seus personagens do que na tensão ou na intriga.

Na trama, um homem que nunca é nomeado (Jason Segel) invade a casa de veraneio de um bilionário da tecnologia, imaginando que o local estará vazio. Quando o dono da casa (Jesse Plemons) e sua esposa (Lily Collins), chegam inesperadamente no local, o estranho acaba fazendo-os de reféns numa tentativa de faturar mais.

Com planos que se estendem bastante e tensões que se constroem aos poucos, a construção da trama é relativamente lenta, mas que compensa conforme tudo chega ao sangrento clímax. É, no entanto, menos sobre o jogo de gato e rato entre sequestrador e reféns e mais uma tentativa de entender quem são essas pessoas através do dispositivo da situação limite na qual são colocadas.

quarta-feira, 23 de março de 2022

Crítica – Horizon: Forbidden West

 

Análise Crítica – Horizon: Forbidden West

Review – Horizon: Forbidden West
Desenvolvido pela Guerrilla Games, Horizon: Zero Dawn foi um dos melhores jogos de 2017. Com um singular universo pós-apocalíptico no qual a humanidade regrediu a um estado tribal e o mundo foi dominado por máquinas de aparência animal, o jogo entregava uma narrativa envolvente, bons personagens, combate desafiador e uma exploração recompensadora. Então obviamente fiquei empolgado de retornar a este universo em Horizon: Forbidden West.

A trama se passa meses depois do jogo original e da expansão Frozen Wilds. Apesar da vitória contra Hades, o mundo ainda enfrenta um potencial cataclismo ambiental a menos que Aloy consiga restaurar Gaia, a IA responsável pela terraformação do planeta. Depois de expedições malsucedidas, a heroína encontra pistas de que Gaia poderia estar na costa oeste, mas o “oeste proibido” é um lugar perigoso e lá Aloy também encontrará novos e antigos adversários.

A narrativa consegue trazer várias revelações inesperadas e assim como no original, consegue envolver pela condução dos mistérios. Perto do final, no entanto, tudo fica um pouco aloprado demais em relação a tudo que foi construído até então, ao ponto em que não sei se é exatamente uma boa direção para a franquia e próximos games. Eu entendo que a ideia era mostrar como o egocentrismo e irresponsabilidade dos bilionários resulta em uma insensibilidade genocida, mas o jogo original já tinha feito isso bem com a história de Ted Faro. Aqui as adições tanto ao passado quanto ao presente fazem pouco para aprofundar essas questões, na verdade tornam algumas figuras mais superficiais e em alguns momentos destoam do resto da trama.

terça-feira, 22 de março de 2022

Crítica – Águas Profundas

Análise Crítica – Águas Profundas


Review – Águas Profundas
É curioso como filmes estrelados por atores que formam um casal na vida real nem sempre dão certo. Ben Affleck já tinha experimentado isso com Jennifer Lopez quando fizeram o pavoroso Contato de Risco (2003) e agora volta a dividir a tela com uma companheira da vida real (ainda que agora não estejam mais juntos, aparentemente) em Águas Profundas.

Adaptando um romance de Patricia Highsmith (que escreveu, entre outras coisas, O Talentoso Ripley), a trama acompanha o casal Victor (Ben Affleck) e Melinda (Ana de Armas). Os dois vivem há tempos em uma relação estagnada, distante, e Melinda não tem nenhum problema em se envolver em casos extraconjugais e até levar seus amantes para festas da família, exibindo-os diante de todos. Um dia Victor decide abandonar sua postura passiva e resolve matar o mais recente amante (Jacob Elordi) da esposa.

O principal problema da trama é que o roteiro nunca nos dá contexto para como a relação dos dois chegou nesse estado. O que causou a estagnação no relacionamento? Porque Melinda decidiu trair o marido de maneira tão acintosa ao ponto de exibir seus amantes na frente dele e todos os seus amigos? Não é uma decisão que simplesmente acontece em uma pessoa que tem um casamento com filhos.