quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Crítica – John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo

 

Análise Crítica – John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo

Review – John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo
A produção John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo é mais um daqueles documentários sobre crimes que está mais interessado em especulação sensacionalista do que uma apuração consistente dos fatos ou mesmo ter algo a dizer sobre as mensagens que produz. O documentário acompanha uma dupla de jornalistas que acompanhou o programador John McAfee, que criou o programa antivírus que leva seu nome, em sua fuga depois de ser acusado de matar um vizinho em Belize.

O filme se concentra nas imagens que os dois jornalistas captaram durante o tempo em fuga de McAfee, que o mostram como um sujeito instável, mas que parece também performar muito dessa instabilidade, como se fosse um esforço consciente da parte dele em querer parecer louco, tanto que ele se compara ao Coringa em dado momento. Isso poderia ser usado para pensar sobre egocentrismo, culto à personalidade ou como uma pessoa consegue criar um mito em torno de si mesmo, no entanto, o documentário nunca tem nada a dizer sobre essas imagens além de expor a bizarrice do comportamento de McAfee, sendo de um sensacionalismo rasteiro.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Drops – Influencer de Mentira

 

Análise Crítica – Influencer de Mentira

Review – Influencer de Mentira
Estrelado por Zoey Deutch, Influencer de Mentira é mais um filme a falar sobre os problemas de nossa obsessão com redes sociais, likes e engajamento. Não tem nada de novo exatamente, mas é bem conduzido o suficiente para funcionar. Danni (Zoey Deutch) é uma aspirante a escritora sem muitos prospectos de futuro. Um dia ela finge uma viagem a Paris para chamar a atenção de um influencer de que gosta, Colin (Dylan O’Brien). O problema é que no momento em que ela posta fotos dizendo que está um ponto turístico de Paris o local é alvo de um ataque terrorista. Assim, Danni continua a mentira, se posicionando como sobrevivente e emplacando uma hashtag sobre saúde mental.

É uma trama de certa forma similar a Querido Evan Hansen (2021), com a diferença que Evan era um garoto inseguro diante de pais enlutados e Zoey é, desde o início, uma mentirosa fútil. Nesse sentido a trama acerta em não tentar relativizar as ações da protagonista, deixando evidente desde a cartela inicial que ela não é uma boa pessoa. A trama aponta não apenas para a futilidade do universo dos influencers como também para a virulência dos linchamentos virtuais uma vez que alguém se torna infame e o modo como portais de notícia, para não ficarem de fora do que é tendência, replicam conteúdo sem devida apuração.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Drops – De Férias da Família

 

Crítica - De Férias da Família

Review - De Férias da Família
Não esperava muita coisa de De Férias da Família, imaginei que seria uma comédia lotada de lugares comuns, mas que fosse ao menos capaz de me divertir ao longo de seus 100 minutos dados os nomes envolvidos. Infelizmente nem essas baixas expectativas foram atendidas.

A trama é protagonizada por Sonny (Kevin Hart) um dedicado pai de família que vive para cuidar dos filhos. Um dia, a esposa dele, Maya (Regina Hall), uma ocupada arquiteta, propõe que ela fique uma semana sozinha com os filhos enquanto Sonny aproveita um tempo livre. Sonny aproveita para encontrar Huck (Mark Wahlberg) um antigo colega dos tempos de farra. Em tese confusões deveriam acontecer a partir daí, no entanto, o roteiro é tão pouco criativo que não consegue criar sequer uma situação engraçada, preferindo apelar para escatologia rasteira, com menções gratuitas a fezes e vômitos, ao invés de criar situações interessantes para inserir esses elementos.

É uma colagem aleatória de situações que mesmo num regime absurdista não conseguem se conectar e nem provocar riso. Não ajuda que o roteiro não saiba exatamente quem é Sonny, que varia entre um marido dedicado, um tirano com os filhos e crianças da escola, um idiota manso e um babaca rancoroso. Como o personagem muda de personalidade a cada cena fica difícil criar qualquer expectativa a seu respeito, tornando quase impossível subvertê-las para fins dramatúrgicos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Crítica – Cuphead: The Delicious Last Course

Análise Crítica – Cuphead: The Delicious Last Course


Review Crítica – Cuphead: The Delicious Last Course
Lançado em 2017 Cuphead chamou atenção pelos seus visuais que remetiam a animações da década de 1930 e também por sua dificuldade extrema. Esses dois atributos seguem presentes na expansão The Delicious Last Course, que introduz novos chefes, armas e uma personagem jogável.

Em uma trama paralela à campanha principal, Cuphead e Mugman recebem uma mensagem da Ms. Chalice pedindo ajuda. Assim, os irmãos navegam para a Ilha Tinteiro IV para ajudar Ms. Chalice a sair do mundo espiritual. Logicamente, isso envolve derrotar mais um monte de chefões difíceis.

O primeiro grande novo elemento é a possibilidade de jogar com Ms. Chalice. Ela, no entanto, não é uma personagem selecionável direto do menu. Para jogar com ela, é preciso equipar um acessório chamado Biscoito Astral, efetivamente fazendo Ms. Chalice substituir o personagem com o qual se está jogando. A troca tem suas vantagens considerando que a garota tem acesso a uma série de habilidades que os outros dois não tem. Ela tem um ponto de vida a mais, pode dar pulos duplos, seu dash automaticamente apara projéteis e ela pode realizar um rolamento no chão que a deixa invulnerável enquanto rola (similar ao que acontece com o acessório Bomba de Fumaça). Assim, trocar uma nova personagem por um espaço de acessório não soa como injusto.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Crítica – Bom Dia, Verônica: 2ª Temporada

 

Análise Crítica – Bom Dia, Verônica: 2ª Temporada

Review – Bom Dia, Verônica: 2ª Temporada
Quando escrevi sobre a primeira temporada de Bom Dia, Verônica mencionei a qualidade do elenco principal, as tensões do mistério que servia de fio condutor para a narrativa. Apontei também como a trama da grande conspiração com figuras sombrias manipulando tudo os bastidores era mirabolante demais para o realismo do resto da série e fragilizava o universo ficcional. Pois nessa segunda temporada Bom Dia, Verônica retorna com os méritos da primeira temporada, mas também reproduz os mesmos problemas.

Depois dos eventos do ano de estreia, Verônica (Tainá Muller) forjou a própria morte e vive sob uma identidade falsa investigando o grupo criminoso por trás do orfanato Cosme e Damião. Ela chega ao provável líder do grupo no pastor Matias (Reynaldo Gianecchini), que usa sua igreja pra prospectar mulheres vulneráveis e abusar delas. Em meio a isso está Angela (Klara Castanho), filha do pastor que aos poucos começa a desconfiar que há algo errado acontecendo em sua casa e com as mulheres que o pai traz para fazer rituais de “cura”.

Como no ano de estreia o caso principal, aqui a investigação em Matias, é permeado por personagens envolventes e boas interpretações. Gianecchini está sinistro como Matias, um sujeito de fala suave que consegue convencer as pessoas de qualquer coisa e usa da fé para manipular seus fieis. Mesmo nos momentos em que ele abusa de outras mulheres ou da filha é desconcertante como ele mantem a serenidade, como se tudo fosse incrivelmente normal para ele.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Crítica – Marte Um

 Análise Crítica – Marte Um


Review – Marte Um
Com toda a instabilidade política e social que vem se instaurando no Brasil nos últimos anos é natural que a nossa produção audiovisual tente abordar esses temas e vivências. Muitas produções são feitas na urgência de denunciar os problemas do país e acabam descambando em produções excessivamente expositivas em que os personagens conversam como se estivessem dando uma aula ao espectador. Esse não é um problema de Marte Um, dirigido por Gabriel Martins. Como é recorrente nas produções da Filmes de Plástico, o olhar afetuoso e naturalista para a realidade brasileira se mostra muito mais eficiente em transmitir a experiência sensível das alegrias e dificuldades do cidadão do que discursos empostados.

A trama segue uma família humilde na região de Contagem, em Minas Gerais. O patriarca Wellington (Carlos Francisco, de Bacurau) trabalha como porteiro em um prédio de luxo em Belo Horizonte. Tércia (Rejane Faria) trabalha como diarista. Eunice (Camilla Damião) é a filha mais velha e pensa em sair de casa para morar com a namorada. Devinho (Cícero Lucas) é um pré-adolescente que sonha em integrar uma missão tripulada à Marte, contrariando o desejo do pai de que ele se torne um jogador de futebol. Depois das eleições de 2018, o cotidiano da família começa a mudar.

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Crítica – Como Seria Se...?

 

Análise Crítica – Como Seria Se...?

Review – Como Seria Se...?
Apesar de vendido como um filme dotado de uma estrutura narrativa inovadora, a produção da Netflix Como Seria Se...? é basicamente uma repetição do que já tinha sido feito há mais de vinte anos atrás em De Caso Com o Acaso (1998), estrelado por Gwyneth Paltrow. Duas narrativas concomitantes que mostram duas vidas diferentes de uma mesma protagonista sem que nenhum dos desfechos seja mais “cânone” que o outro.

Essa ideia de explorar possíveis desdobramentos de uma mesma escolha também já tinha sido explorada por Tom Tykwer em Corra Lola, Corra (1998). É possível que toda a onda de multiverso que tem tomado a indústria hollywoodiana tenha devolvido o interesse a esse tipo de estrutura, mas fazer parecer que há algo de novo quando diretores vem experimentando com esse tipo de formato soa bastante míope.

A trama acompanha Natalie (Lili Reinhart) às vésperas de sua formatura. Depois de transar com o melhor amigo, Gabe (Danny Ramirez), e terminar a faculdade, ela passa mal na festa de formatura. Dando ouvidos ao conselho de uma amiga, ela faz um teste de gravidez e daí a trama se divide em duas, com uma seguindo como seria se ela estivesse grávida e precisasse abrir mão dos planos para ficar com a filha e como seria se Natalie não estivesse grávida e fosse para Los Angeles com a amiga Cara (Aisha Dee) para tentar o emprego dos sonhos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Crítica – Não! Não, Olhe!

 

Análise Crítica – Não! Não, Olhe!

Review – Não! Não, Olhe!
Uma das primeiras imagens de Não! Não Olhe! é um versículo bíblico do livro de Naum (3:6) e é difícil não pensar no jogo de palavras que Jordan Peele coloca aqui. Não apenas o texto do versículo bíblico, mas o próprio título do evangelho evoca uma conexão com o imperativo negativo no título do filme. Esse é só um dos muitos elementos com múltiplas camadas de interpretação numa trama que se vale da estrutura típica de um filme de monstro para refletir sobre exclusão, exploração e o ato de olhar.

A narrativa acompanha O.J (Daniel Kaluuya) um jovem treinador de cavalos que prepara animais para aparecerem em filmes. Quando seu pai morre em circunstâncias misteriosas, O.J deseja tocar adiante o negócio da família enquanto que sua irmã Emerald (Keke Palmer) quer vender o rancho. Antes de tomar qualquer atitude, no entanto, ambos notam o fenômeno estranho que provavelmente matou seu pai: um estranho disco voador nas redondezas da fazenda. Os irmãos então decidem encontrar um jeito de filmar e provar a existência do objeto.

É possível pensar como a premissa está fundamentada no desejo e no prazer de olhar, algo que está na base do cinema em si. As tentativas de filmar o objeto e descobrir o que é ponderam sobre a centralidade do olhar e como as coisas só tem valor e sentido na medida que são capturadas por nossos sentidos. Os irmãos sabem que só acreditarão neles com imagens e sabem que só podem extrair valor da história se tudo for bem filmado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida

 

Análise Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida

Resenha Crítica – Dog: A Aventura de Uma Vida
Dirigido por Channing Tatum, Dog: A Aventura de Uma Vida remete a outro filme estrelado por Tatum: Magic Mike (2012). Nele, assim como no filme aqui analisado, Tatum observava a contradição de que mesmo homens que parecem se adequar a certos padrões sociais de masculinidade sofrem por pertencerem a certo ideal conservador do que é ser “homem”. Em Magic Mike e sua continuação isso era observado sob o ponto de vista dos strippers e dos estereótipos que normalmente acompanham a profissão. Aqui ele analisa a partir de soldados que voltam da guerra e a coisa não funciona tão bem, já que a trama passa ao largo das complexidades do militarismo estadunidense em um contexto global.

A trama é focada em Briggs (Channing Tatum) um ex-soldado com dificuldades em reconstruir a vida depois de voltar a ser civil. Quando um companheiro de farda morre em um acidente, o antigo comandante de Briggs pede a ele que transporte Lulu, uma cadela de resgate treinada pelo amigo morto, para o funeral dele. Como Lulu também foi muito afetada pela experiência de guerra, Briggs não pode levá-la de avião. Agora ambos vão pegar a estrada em uma viagem que logicamente obrigará o protagonista a lidar com os traumas passados.

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Crítica – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)

 

Análise Crítica – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)

Review – Better Call Saul: 6ª Temporada (Parte 2)
Em Breaking Bad Walter White dizia que a química consistia de crescimento, degradação e transformação. Ao final a série nos mostrava o crescimento e a degradação da vida de Walt, que se encerrava em um ato de sacrifício no qual o personagem retomava as rédeas, mas não necessariamente o redimia de tudo que fez porque ele encontrava uma saída fácil na morte ao invés de enfrentar as consequências de tudo que fez. Em Better Call Saul, por outro lado, vemos todo esse processo de crescimento, degradação e transformação de Jimmy McGill.

Eu já cheguei a escrever a respeito de como essa segunda parte da sexta temporada constrói de maneira magistral a ruptura entre Jimmy/Saul (Bob Odenkirk) e Kim (Rhea Seehorn), bem como já comentei sobre a primeira metade da temporada, então não irei me repetir. Ao invés disso, irei me concentrar nos episódios que se passam após esse rompimento e acompanham os personagens na linha temporal após os eventos de Breaking Bad.