sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Crítica – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução

 

Análise Crítica – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução

Review – RRR: Revolta, Rebelião, Revolução
Conheço pouco do cinema indiano, mas fiquei curioso para conferir este RRR: Revolta, Rebelião, Revolução não apenas pelas conversas de que poderia ser indicado a prêmios internacionais, como também pelo argumento de que ele não deveria ser indicado a prêmios por se tratar de uma peça de propaganda nacionalista. Ora, o que são filmes como Top Gun: Maverick (2022), Rambo 3 (1988) ou O Resgate do Soldado Ryan (1998) se não peças de propaganda nacionalista, feitas para acreditarmos nos Estados Unidos como essa heroica “polícia do mundo” com interesses puros de promover a liberdade e democracia ao redor do globo?

Porque Hollywood ou a Europa podem fazer filmes celebrando suas identidades nacionais e construindo uma versão de seu relato histórico em que seu povo é sempre o herói, mas populações colonizadas, como a da Índia, não podem fazer o mesmo? Imagino que muito do que causou essa recepção do filme se relaciona com o incômodo das populações europeias e de outros países hegemônicos em se enxergarem como vilões. Muito da história da colonização foi construída da perspectiva europeia e nela eles se colocam como bravos descobridores que civilizaram ou dominaram as selvagens e atrasadas populações dos territórios conquistados.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Crítica – A Filha do Rei

 

Análise Crítica – A Filha do Rei

Review – A Filha do Rei
Adaptando um romance escrito por Vonda McIntyre, A Filha do Rei teve uma longa jornada até os cinemas. O filme foi feito em 2014, mas ficou engavetado até 2022 quando foi lançado sem muito barulho e depois de tê-lo assistido entendi o motivo. Não consegui encontrar muita coisa em termos do por que ter sido engavetado e esperado sete anos para sair, no entanto, o resultado pavoroso torna compreensível o porquê do filme ser jogado de qualquer jeito nas salas de cinema. Imagino que a produtora sabia do fracasso que tinha em mãos e preferiu reduzir as perdas ao não gastar muito com publicidade.

A trama se passa no século XVIII. O rei Luís XIV (Pierce Brosnan) volta a Paris depois de uma guerra custosa que coloca parte da população contra ele. Obcecado com a ideia de imortalidade, o rei descobre que seu desejo pode ser alcançado se roubar a força vital de uma sereia e despacha sua marinha em busca da criatura. Ao mesmo tempo, ele tenta se aproximar de Marie-Josephe (Kaya Scodelario), a filha que manteve em segredo do mundo e até dela mesma. Usando a ocorrência de um eclipse, o rei manda trazer Marie a Paris sob o pretexto que ela toque em uma cerimônia, mas na verdade deseja revelar à jovem que é seu pai.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Drops – Matilda: O Musical

 

Análise Crítica– Matilda: O Musical

Review – Matilda: O Musical
Confesso que nunca tive lá grande vínculo com o clássico da Sessão da Tarde Matilda (1996), achava divertido, assistia quando passava, mas não foi algo tão presente na minha formação cinéfila. Ainda assim, fiquei curioso para conferir este Matilda: O Musical, que adapta o musical teatral baseado no livro de Roald Dahl que inspirou o filme de 96.

A trama é a mesma da versão da década de 90, Matilda (Alisha Weir) é uma garota precoce e genial negligenciada pelos pais picaretas que é mandada para a escola dirigida pela rígida Sra. Trunchbull (Emma Thompson), que sente prazer em humilhar as crianças. Felizmente, Matilda encontra refúgio nos amigos e na professora Honey (Lashana Lynch).

Tal como o primeiro filme, a narrativa é sobre como adultos não entendem ou subestimam as crianças, além de criticar um modelo educacional repressivo que tenta colocar as crianças dentro de um padrão restrito de conduta através de castigos arbitrários que não educam coisa alguma. Através de Matilda somos lembrados da inventividade e senso de imaginação que temos durante a infância, bem como o fato de que crianças as vezes tem motivos compreensíveis para agir de um modo que adultos considerariam como travesso.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Crítica – Noites Brutais

 

Análise Crítica – Noites Brutais

Review – Noites Brutais
O terror Noites Brutais é um daqueles filmes que é melhor assistir sabendo o mínimo possível. Ele constantemente nos leva por caminhos inesperados que ampliam o suspense e nos deixa em um estado de incerteza a respeito do que virá a seguir. Em tempos de filmes que parecem cada vez mais aderir a lugares comuns, é um alívio encontrar produções que arriscam ao aloprar na trama com fabulações que nunca imaginaríamos a exemplo do que James Wan fez em Maligno (2021), embora Noites Brutais não chegue ao nível de maluquice do filme de Wan.

A trama é protagonizada por Tess (Georgina Campbell) que viaja a Detroit para uma entrevista de emprego e aluga uma casa via aplicativo. Chegando lá Tess descobre que há outra pessoa no local, Keith (Bill Skarsgard), que alugou a mesma casa via aplicativo diferente. Sem conseguir outro lugar para ficar, Tess aceita dividir a casa com Keith, mas fica alerta com o comportamento do desconhecido.

De início imaginamos que o filme irá girar em torno desse desconforto social de ser mulher e ser colocada em um espaço com um homem estranho. Como vemos tudo sob a perspectiva de Tess, imediatamente suspeitamos de Keith e de suas atitudes aparentemente gentis, como oferecer chá. O fato de Keith comentar que é “um cara legal” e que o chá não tem nada para dopar Tess só amplia nossa desconfiança. Claro, muito da tensão vem da escalação de Bill Skarsgard, famoso por viver monstros em filmes de terror (como o palhaço Pennywise), já imaginamos que o personagem interpretado por ele será alguém sinistro.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

 

Análise Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Review – Glass Onion: Um Mistério Knives Out
Lançado em 2019 Entre Facas e Segredos divertia ao brincar com as convenções do gênero policial. Produzida pela Netflix, sua continuação, Glass Onion: Um Mistério Knives Out, segue entretendo graças ao seu equilíbrio entre homenagem e deboche de tramas investigativas.

Na trama, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) é convidado para um final de semana na mansão do bilionário Miles Bron (Edward Norton) em sua propriedade nas ilhas gregas. Além de Blanc, estão na viagem outros amigos e parceiros do bilionário e o motivo da viagem é participar de um jogo: desvendar o fictício assassinato de Miles. O problema é que pessoas começam a morrer de verdade e Blanc precisa entrar em ação.

De início parece que estaremos diante de um mistério bem similar ao romance E Não Sobrou Nenhum de Agatha Christie, em que um grupo de pessoas numa mansão remota começa a ser assassinado um a um, no entanto, o texto de Rian Johnson consegue pegar essa premissa familiar e virar ao avesso, evitando que as coisas fiquem previsíveis demais e mantendo o clima de suspense.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Crítica – Sorria

 

Análise Crítica – Sorria

Review – Sorria
O terror Sorria chamou minha atenção pelos pôsteres com personagens exibindo sorrisos macabros. Mesmo sem saber exatamente do que se tratava, as imagens eram o suficiente para despertar minha curiosidade. O resultado, felizmente, é um produto satisfatório, ainda que um pouco derivativo.

Na trama, a psiquiatra Rose (Sosie Bacon) testemunha uma paciente se matar diante dela dizendo que estava sendo perseguida por uma entidade sobrenatural que a fazia ver estranhos rostos sorridentes. Pouco tempo depois, Rose começa a ver o mesmo tipo de aparição e teme estar perdendo a sanidade. Ela começa a pesquisar e descobre uma estranha ligação de sua paciente com outros suicídios.

De certa forma a narrativa do filme é basicamente a mesma de Corrente do Mal (2014), com uma entidade invisível “infectando” diferentes pessoas e passando de hospedeiro para hospedeiro. A diferença é que ao invés de ser transmitida pelo sexo, é transmitida ao ver alguém se matando.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Lixo Extraordinário – Labirinto de Emoções

 

Análise Crítica – Labirinto de Emoções

Review - Mazes and Monsters
Na década de 80 houve todo um discurso midiático focado em construir pânico moral ao redor de RPGs de mesa como Dungeons & Dragons. Pessoas que não entendiam esses jogos achavam se tratar de coisas satânicas e qualquer morte ou desaparecimento de jovens na época era creditado aos RPGs. Era algo tão preponderante que a quarta temporada de Stranger Things chegou a explorar esse pânico moral e esse discurso era tão presente e pervasivo que não se limitava ao jornalismo até mesmo a ficção da época se dedicada a demonizar os jogos de RPG. Um exemplo é este Labirinto de Emoções, lançado em 1982 e adaptando um romance escrito por Rona Jaffe, o filme mostrava como jogar RPG destruía a vida dos jovens, recorrendo a caracterizações extremamente caricatas sobre o jogo e seus jogadores. A produção também tem a distinção de ser o primeiro longa metragem estrelado pelo ator Tom Hanks, mas, bem, todo mundo precisa começar por algum lugar.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Crítica – Eu Sou Vanessa Guillen

 

Análise Crítica – Eu Sou Vanessa Guillen

Review – Eu Sou Vanessa Guillen
Eu tinha ouvido falar por alto do caso Vanessa Guillen, uma militar dos Estados Unidos que foi desapareceu da base militar que servia no interior do país e que semanas depois foi encontrada morta com suspeita de ter sido assassinada e estuprada por colegas de farda. O documentário Eu Sou Vanessa Guillen acompanha a família de Vanessa conforme elas pressionam as autoridades por justiça e mudanças na legislação que rege investigações pertinentes às forças armadas.

Apesar de partir de um crime o documentário é menos sobre o crime em si e mais sobre como a estrutura de poder das forças armadas dos EUA trabalha para ocultar crimes cometidos por militares, que muitas vezes não sofrem qualquer tipo de consequência. Na verdade, o pouco foco no crime se dá pela própria falta de evidências e elementos concretos para se falar dele, já que pouca informação a respeito foi divulgada pelas forças armadas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Crítica – Aftersun

 

Análise Crítica – Aftersun

Review – Aftersun
Quando somos crianças muitas vezes pensamos em nossos pais como super-heróis infalíveis. Só quando nos tornamos adultos é que vemos que eles são falhos como qualquer pessoa e ao revisitar as memórias de infância nos perguntamos como não percebemos antes os problemas deles ou o que eles estavam passando. Aftersun primeiro longa metragem da diretora Charlotte Wells é exatamente sobre esse exame de memórias e a tentativa de conciliar a imagem que criamos de nossos pais com a realidade do que eles eram.

Quando tinha onze anos Sophie (Frankie Corio) viajou para a Turquia para passar férias com o pai, Calum (Paul Mescal), em um modesto resort. Já adulta Sophie (Celia Rowlson-Hall) revisita filmagens e fotos da época para pensar em como o modo que ela se lembra daquele período e do pai.

A trama ocasionalmente se desloca no tempo entre a Sophie criança e a versão adulta da personagem e esses movimentos acontecem com relativa naturalidade, quase sem chamar atenção para si. Não interessa a Wells o jogo com as temporalidades e sim explicitar para o espectador que aquilo que vemos não é a realidade do passado, mas a memória de Sophie. É como ela lembra, não necessariamente o que aconteceu e essa constante volta ao passado, como um disco que toca sem parar, soa quase como uma tentativa de Sophie de tentar encontrar vestígios que ela teria deixado passar quando criança.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Crítica – Avatar: O Caminho da Água

 

Análise Crítica – Avatar: O Caminho da Água

Review Crítica – Avatar: O Caminho da Água
Confesso que tinha minhas reservas com Avatar: O Caminho da Água. O primeiro filme entregava um grande espetáculo visual que criava um universo interessantíssimo, mas a trama básica me fazia pensar se seria capaz de sustentar uma franquia. Esse sentimento foi ampliado pelo hiato de treze anos entre os dois filmes. Afinal, será que James Cameron conseguiria ainda fazer o público se importar com o mundo de Pandora depois de tanto tempo? Será que seria mais um apelo cínico à nostalgia como Hollywood tem feito incansavelmente nos últimos anos? Para minha surpresa, o resultado de Avatar: O Caminho da Água é majoritariamente positivo.

A trama se passa muitos anos depois do primeiro filme. Jake (Sam Worthington) agora tem uma família com Neytiri (Zoe Saldana) e vive em comunhão com o povo da floresta e com os poucos humanos que restaram em Pandora. Tudo muda quando a humanidade retornar pronta para guerra e para retomar o controle do planeta. Jake lidera uma guerrilha contra os humanos, mas os planos mudam com a chegada de um clone do coronel Quaritch (Stephen Lang), agora num avatar de Na’vi, enviado especialmente para caçar Jake e sua família. Jake decide deixar a floresta e se refugiar com o povo da água, onde acredita que ficará seguro.