Quase quinze anos depois de seu
último filme (o excelente e pouco visto Pecados
Íntimos), o diretor Todd Field retorna às telas com Tár um filme que muitos podem reduzir ao um mero olhar sobre
“cultura do cancelamento”, mas tem muito mais camadas do que isso. Tal como um
maestro em uma orquestra Tár é sobre
tempo, estar ciente do tempo, medir o tempo, controlar o tempo e o que acontece
quando alguém é incapaz de se relacionar adequadamente com o tempo ao seu
redor.
A trama acompanha a maestra Lydia
Tár (Cate Blanchett), uma regente com uma brilhante carreira na música clássica
e primeira mulher a dirigir a filarmônica de Berlim. Devotada a compositores
clássicos como Mahler e Bach, Lydia está prestes a fazer história com sua
vindoura gravação da quinta sinfonia de Mahler, no entanto as indiscrições
pessoais de Lydia começam a surgir e a maestra vai aos poucos perdendo o
controle do mundo a sua volta.
De certa forma Lydia é uma pessoa
fora do tempo presente. Seus ídolos estão todos no passado e são todos homens,
ela se recusa a olhar para a arte com qualquer viés sociológico ou político.
Para ela as críticas ao eurocentrismo da música clássica e as condutas ou
pensamentos de compositores como Bach de nada servem. O texto de Todd Field
nunca adere à ideia de que devemos “cancelar” a música clássica por sua
perspectiva branca eurocêntrica ou por condutas questionáveis de seus
compositores, no entanto, a trajetória da narrativa opera para mostrar o
equívoco do ponto de vista de Lydia em considerar que a arte existe
desconectada de seu contexto de produção e de recepção. É um tema espinhoso e o
filme o trata com essa devida complexidade, evitando respostas fáceis.