sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Drops – Trocados

 

Análise Crítica – Trocados

Review – Trocados
Filmes de trocas de corpos já foram feitos aos montes por Hollywood e até pelo cinema brasileiro. Mãe que troca de corpo com filha, pai com filho, marido com esposa. Muitas combinações já foram explorados e, talvez justamente por isso, Trocados, produção da Netflix resolve simplesmente fazer todas ao mesmo tempo. O resultado é um filme que tenta chamar atenção pelo volume e não necessariamente pela qualidade do humor ou das personagens.

A trama segue a família liderada por Jess (Jennifer Garner) e Bill (Ed Helms). Quando eles discutem com os filhos CC (Emma Myers, a Enid de Wandinha) e Wyatt (Brady Noon) durante um alinhamento planetário, eles acordam com os corpos trocados. Os filhos estão no corpo dos pais e até o bebê trocou de corpo com o cachorro.

É óbvio desde o início que a troca de corpos servirá para que cada membro da família entenda as dores e dificuldades do outro aprendendo grandes lições de vida no processo. Além de uma estrutura previsível, a trama é prejudicada por um roteiro que se apoia em recriar todas as situações que já vimos antes nesse tipo de produção. A filha no corpo da mãe precisa fazer a “grande apresentação” que ira render uma promoção no emprego, o pai no corpo do filho precisa fazer a entrevista para uma faculdade de prestigio que selará seu futuro.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Crítica – Saltburn

 

Análise Crítica – Saltburn

Resenha Crítica – Saltburn
Se tem uma coisa que aprendi assistindo O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e a este Saltburn é que convidar Barry Keoghan para sua casa certamente acabará em tragédia. Dirigido e escrito por Emerald Fennell, Saltburn foi bastante divulgado como algo próximo de um thriller erótico, mas na prática é mais um suspense sobre conflitos de classe do que sobre sexualidade.

A trama é centrada em Oliver (Barry Keoghan), um jovem que acabou de entrar na faculdade de Oxford, e se encanta pelo colega aristocrata Felix (Jacob Elordi), membro de uma família que descende de nobreza e dona de uma extravagante propriedade chamada Saltburn. Oliver se aproxima de Felix e é convidado a passar as férias de verão com ele na mansão de sua família. Chegando lá, Oliver conhece os membros excêntricos da família do colega, como seu pai, Sir James (Richard E. Grant), sua mãe, Eslpeth (Rosamund Pike), e sua irmã Venetia (Alison Oliver). Aos poucos Oliver descobre como ele e vários outros agregados da família precisam bajular e disputar a atenção deles para não serem mandados embora e como Felix e seus parentes veem todos como brinquedos a seu serviço. O que começou como férias entre amigos logo se torna um tenso jogo de intrigas para tentar se manter sob os bons olhos da família e continuar vivendo no luxo deles.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

 

Análise Crítica – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo

Review – Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo
Os primeiros escritos sobre gêneros dramatúrgicos datam da Grécia antiga e de pensadores como Aristóteles. O filósofo ponderava como os gêneros, com suas estruturas típicas, propiciavam certa economia narrativa. Como o espectador já sabia mais ou menos como a história iria se estruturar, o dramaturgo poderia focar sua atenção nas particularidades dos personagens ou do universo. Hollywood se vale até hoje desse princípio de economia narrativa, com filmes tipo John Wick ou Missão Impossível simplificando suas tramas (porque já sabemos como elas irão transcorrer) para focar no espetáculo de ação.

Zack Snyder, por outro lado, parece ignorar a ideia de economia narrativa neste Rebel Moon Parte 1: A Menina do Fogo, um filme que é basicamente uma cópia de Star Wars misturado com algumas outras produções (como Os Sete Samurais do Kurosawa). Não há nada de original na trama ou universo criado por ele e não teria problema se Snyder ao menos reconhecesse essa natureza derivativa e oferecesse visuais, locais ou cenas de ação bem construídas (como os dois Avatar de James Cameron), mas ao invés disso o diretor parece tão deslumbrado com sua própria criação que conduz tudo com absoluta segurança de que fez algo completamente original, resultando em uma trama arrastada pela necessidade de explicar os próprios clichês sem fazer nada para subvertê-los, como se estivéssemos assistindo algo completamente novo.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Crítica – Plano em Família

 

Análise Crítica – Plano em Família

Review – Plano em Família
Um agente secreto esconde sua verdadeira ocupação da família e vive como um pacato pai suburbano sem que a esposa e filhos saibam a verdade sobre ele até que terroristas tomam sua família de refém e ele precisa conciliar esses dois mundos. Essa é a trama de True Lies (1994) excelente comédia de ação dirigida por James Cameron que este Plano em Família, produção original da AppleTV+, basicamente copia sem qualquer pudor ou brilho.

A história gira em torno de Dan (Mark Wahlberg), um pacato vendedor de carros usados que tem um passado como operativo secreto que esconde da esposa, Jessica (Michelle Monaghan), e dos filhos. As coisas mudam quando mercenários começam a atacar Dan e ele sugere uma viagem em família para fugir dos assassinos ao mesmo tempo em que tenta manter tudo oculto da família.

A estrutura de viagem pela estrada parece feita sob medida para alongar a narrativa sem lhe adicionar nenhum estofo, jogando os personagens em encontros fortuitos e subtramas que não tem muita repercussão na trama ou não servem para dar nenhum desenvolvimento aos membros da família. A busca da filha, Nina (Zoe Colletti), por uma vaga na universidade dos sonhos não faz muito diferença, enquanto a subtrama de Kyle (Van Crosby) tentando se tornar um atleta de esports parece existir apenas para adicionar um longo segmento que é meramente uma longa e pouco sutil publicidade de um game online. A verdade é que o filme poderia ter tranquilamente 90 ou 100 minutos ao invés das suas inchadas duas horas de duração.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Crítica – Yu Yu Hakusho

 

Análise Crítica – Yu Yu Hakusho

Review – Yu Yu Hakusho
Depois de um live action de One Piece que surpreendeu ao não ser péssimo, a Netflix entrega outra adaptação com atores razoavelmente bem sucedida com este Yu Yu Hakusho. É fiel ao espírito do anime ainda que peque por tentar cobrir uma quantidade grande de tramas em apenas cinco episódios.

A história é a mesma do anime e do mangá. Yusuke Urameshi (Takumi Kitamura) é um valentão que não se importa muito com escola, mas tem um bom coração. Quando ele se coloca na frente de um caminhão e morre para evitar que uma criança seja atropelada, o governante do mundo dos mortos, Koenma (Keita Machida), lhe dá a chance de retornar ao mundo dos vivos como um detetive sobrenatural para enfrentar yokais que saíram do mundo espiritual para atormentar os humanos.

Inicialmente parece que essa primeira temporada irá adaptar o arco do detetive sobrenatural, a primeira grande saga do material original. Nos últimos episódios, porém, a série mescla o resgate a Yukina, que seria o clímax do primeiro arco, com o arco do torneio das trevas, basicamente cobrindo metade do anime em apenas cinco episódios de cerca de cinquenta minutos cada. Logicamente é muito pouco para dar conta de quatro protagonistas, as relações entre eles, com os coadjuvantes importantes e a rivalidade com certos vilões como o Toguro (Go Ayano).

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

 

Análise Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

Considerando que o universo DC está morto e enterrado, com a Warner querendo rapidamente chegar aos novos filmes sob a batuta do James Gunn, não tinha muitas expectativas quanto a este Aquaman 2: O Reino Perdido. Afinal, assim como The Flash era um filme que estava pronto faz tempo, foi adiado várias vezes e sofreu várias mudanças por conta das trocas de lideranças na Warner/DC e por polêmicas envolvendo o elenco (mais notadamente Amber Heard), embora este filme tenha passado por menos perrengues de bastidores que o do velocista escarlate.

A trama se passa alguns anos depois do primeiro filme. Arthur (Jason Momoa) e Mera (Amber Heard) agora tem um filho e a responsabilidade de gerir o reino de Atlântida. As coisas se complicam quando o Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) encontra o tridente sombrio do Reino Perdido e passa a ser influenciado pelo espírito do rei maligno que reside na arma. O Arraia sabe que está sendo usado pelo rei, mas decide aceitar para poder se vingar de Arthur.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Crítica – Priscilla

 

Análise Crítica – Priscilla

Review – Priscilla
O Elvis (2022) de Baz Luhrmann focava tanto na relação do rei do rock com o Coronel Parker que Priscilla Presley, esposa do cantor, virava basicamente uma nota de rodapé na história. Em Priscilla a diretora Sofia Coppola decide contar a história dela e de como a relação com Elvis a afetou.

A narrativa se baseia no livro autobiográfico de Priscilla Presley, acompanhando Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) desde sua adolescência, quando conhece um Elvis (Jacob Elordi, de Euphoria e A Barraca do Beijo) já adulto durante o período em que ele serviu no exército, até os anos finais de seu casamento com ele. Sob o olhar de Coppola, a história de Priscilla é narrada como a de alguém presa em uma gaiola de ouro. Por mais que ela tivesse tudo que o dinheiro pudesse proporcionar, isso não a impedia de se sentir solitária e infeliz, já que sua existência era reduzida a ser um bibelô nas mãos de Elvis.

É um olhar sobre o vazio e o tédio de uma jovem inadvertidamente jogada em um universo de riqueza para ser tratada como objeto que remete a outros filmes de Sofia Coppola, como a personagem de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros (2003) ou Maria Antonieta (2006). Priscilla é constantemente colocada sozinha no quadro, construindo seu senso de isolamento e alienação, amplificando isso com o uso de planos abertos a partir do momento em que ela vai para Graceland que ressaltam como aquela opulência pode soar opressiva, vazia e solitária.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Crítica – Se Eu Fosse Luísa Sonza

 


Review – Se Eu Fosse Luísa Sonza
Tudo que eu sei sobre a cantora Luísa Sonza foi contra a minha vontade. A garota é tão exposta na mídia que sei mais sobre a vida pessoal dela do que a respeito de alguns parentes e olha que nunca procurei ativamente nada sobre ela. Na verdade, ficaria bem contente em saber menos a respeito. Curiosamente, apesar da exposição sei mais sobre as tretas de sua vida pessoal do que sobre sua música, o que raramente é um bom sinal. O documentário Se Eu Fosse Luísa Sonza soa como um desdobramento inevitável para uma artista em ascensão, mas se muitos usam esse tipo de produto como um veículo para expandir sua audiência, o documentário da Netflix dividido em três episódios parece se dirigir aos fãs mais ardorosos, já que a maneira como tudo é contado dificilmente vai convencer ou aproximar qualquer outro espectador.

Trata-se de um documentário meramente laudatório, sem qualquer nuance ou interesse de tentar entender a personalidade do objeto do documentário. Tudo é posto para que Luísa seja vista como uma grande artista (sem nada de muito convincente para justificar essa visão) ou como uma grande coitada perseguida pela mídia (com um sensacionalismo exagerado que faz tudo soar artificial) para atrair nossa comiseração. É um produto marcado pela contradição de querer se expor intimamente e uma preocupação extrema em controlar a narrativa e imagem que cerca a cantora.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Drops – Meu Pai é um Perigo

 

Análise Crítica – Meu Pai é um Perigo

Review – Meu Pai é um Perigo
Estrelado pelo comediante Sebastian Maniscalco e levemente baseado na sua relação com o pai na vida real, Meu Pai é um Perigo é praticamente A Gaiola das Loucas (1996) trocando gays por italianos. Na trama, Sebastian (Sebastian Maniscalco) é um filho de imigrante italiano que está prestes a pedir a namorada, Ellie (Leslie Bibb), em casamento, mas seu pai, Salvo (Robert De Niro), quer primeiro conhecer a tradicional família branca e protestante de Ellie antes de dar a benção para o filho casar. Assim, Sebastian e Salvo viajam para a propriedade da família de Ellie para passar o feriado de 4 de julho e o choque cultural entre as duas famílias cria caos.

O filme tem uma estrutura relativamente episódica, saindo de um evento para outro quase como se fossem esquetes soltos ao invés de uma narrativa coesa. Essa falta de coesão se vê também nos personagens, em especial Salvo. Se nos primeiros momentos ele implica com absolutamente tudo, depois de uma reclamação de Sebastian ele muda completamente de personalidade e simplesmente passa a encantar toda a família de Ellie como se nada tivesse acontecido. Esse tipo de guinada pela conveniência da trama tira o impacto de aspectos mais dramáticos dos conflitos familiares que o filme tenta construir, fazendo os momentos que deveriam ser de catarse e reconciliação não funcionarem.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Crítica – Acampamento de Teatro

 

Análise Crítica – Acampamento de Teatro

Review – Acampamento de Teatro
Inspirado no curta-metragem de mesmo nome, Acampamento de Teatro remete a comédias dos anos 80 sobre acampamentos de férias cujas tramas giravam em torno de salvar um acampamento humilde, mas adorado pelos veranistas, da falência ou de ser comprado pelo acampamento dos ricos esnobes. Ele segue essa mesma premissa, misturando com uma estrutura de falso documentário e um humor que parodia o universo do teatro musical.

Durante décadas Joan (Amy Sedaris) dirigiu um acampamento de férias dedicado a crianças que queriam estudar teatro. Embora humilde, o local era adorado pelas crianças, mas quando Joan sofre um derrame, seu filho influencer, Troy (Jimmy Tatro), assume a gestão do local implementando mudanças e cortes de gastos para tentar salvar o local da falência. Demitindo boa parte dos instrutores, cabe aos professores remanescentes, Amos (Ben Platt) e Rebecca-Diane (Molly Gordon, que fez a namorada do Carmy em O Urso), tentarem manter o local funcionando a contento e organizar um espetáculo em homenagem a Joan.