Estreia da atriz Zoe Kravitz como
diretora, Pisque Duas Vezes é um
suspense sobre manipulação e abuso que não se esquiva de lidar com os aspectos
mais sombrios desse tipo de violência. Em alguns momentos não é um filme fácil
de assistir, mas não deixa de funcionar como uma impactante reflexão de como
esse tipo de violência funciona.
Ilha do esquecimento
A trama é centrada na garçonete
Frida (Naomi Ackie). Um dia ela vai com a amiga Jess (Alia Shawkat) a uma festa
e conhece o bilionário da tecnologia Slater (Channing Tatum). Ele as convida
para passar uns dias em sua ilha particular e a dupla aceita. Chegando lá
conhecem outros amigos e amigas do bilionário e passam seus dias na piscina,
tomando drinks, comendo comida refinada e em festas que nunca terminam. Com o
tempo, porém, Frida começa a se sentir esquisita, já que a proibição de
celulares ou relógios a faz perder noção de há quanto tempo está ali e
ocorrências estranhas, como outros convidados sumindo e ninguém lembrando
deles, a fazem suspeitar de que há algo muito estranho ocorrendo ali.
Tramas sobre trocas de corpos são
propícias para suspense. O fato de não sabermos quem está no corpo de quem é um
mecanismo de constante tensão e que pode ser usado para gerar reviravoltas. Identidades em Jogo tenta se construir
em cima dessa ideia, mas uma demora em engrenar e um olhar raso para seus
personagens deixa a produção aquém de seu potencial.
Donald Trump já ocupava os
holofotes décadas antes de sua entrada na política. O Aprendiz, ao contrário do que o título sugere, não foca no reality show que ele apresentou no
início dos anos 2000, mas na relação entre Trump e Roy Cohn, advogado
constantemente associado a figuras da máfia e que foi parte fundamental do
sucesso inicial de Trump.
Advogado do diabo
A narrativa começa no final dos
anos 70 quando um jovem Donald Trump (Sebastian Stan) está assumindo o negócio
imobiliário do pai, Fred (Martin Donovan) e enfrenta um processo na justiça
federal que o acusa de discriminar inquilinos negros. O processo põe em pausa
os planos de Trump de sair do ramo de habitações populares e começar a investir
em hotéis de luxo, então ele procura a ajuda do advogado Roy Cohn (Jeremy
Strong, de Succession), para ajudá-lo. A trama então segue o desenvolvimento da relação entre
Trump e Cohn, mostrando a influência do advogado no empresário.
Como em muitos outros filmes dos
irmãos Coen Garotas em Fuga apresenta
uma trama sobre pessoas comuns acidentalmente envolvidas em uma trama criminal.
Despreparadas para lidar com os eventos ao seu redor, as personagens agem de
maneira sem noção e provocam reações desproporcionais em seus perseguidores,
criando uma espécie de bola de neve crescente de burrice e caos. Dirigida por
Ethan Coen, a produção não tem nada que ele já não tenha feito antes, mas ao
menos envolve com suas personagens pitorescas.
Comédia de erros
A trama é centrada em Jamie
(Margaret Qualley), que busca um recomeço depois de terminar com a namorada,
Sukie (Beanie Feldstein), embarca em uma viagem para a Flórida ao lado de sua
amiga Marian (Geraldine Viswanathan). O problema é que o carro que elas
alugaram deveria ser entregue a um grupo de criminosos que iria transportar a
carga escondida nele até a Flórida e agora os criminosos estão no encalço das
duas.
Muito do humor vem das
personalidades opostas da dupla principal, com Jamie sendo aventureira e
disposta a qualquer maluquice enquanto Marian é mais retraída e introspectiva.
Boa parte das situações insólitas em que a dupla se coloca vem de Jamie querer
que Marian se solte e tenha uma transa espetacular com alguma garota que
encontrem na estrada, enquanto Marian prefere esperar pela garota ideal.
Universo caótico
Além das protagonistas, o filme
povoa seu universo com figuras esquisitas e histriônicas, como a dupla de
capangas no encalço de Jamie e Marian, que estão sempre discordando e
questionando o modo de agir um do outro, enquanto um quer ser mais violento o
outro tenta resolver via diálogo, um embate que terá consequências sangrentas
perto do final. Igualmente pitoresca é a agressiva policial vivida por Beanie
Feldstein que parece sempre reagir a qualquer situação com o máximo de intensidade,
que faça sentido para o momento ou não.
Esse senso de bizarrice se dá
também na própria progressão da trama, com guinadas que acontecem por conta de
coincidências ou desencontros fortuitos e revelações completamente absurdas. A
principal delas é a descoberta do que há na maleta escondida no carro de Jamie
e Marian e o motivo de um poderoso e conservador senador da Flórida
(interpretado por Matt Damon) estar tão focado em recuperá-la. De todas as
possibilidades de construir uma trama de escândalo político, o filme escolhe
pela via mais estúpida e aloprada possível. Há uma crítica aqui às hipocrisias
dessas figuras públicas que arrotam moralismo em prol da “família tradicional”,
mas são observações que nunca saem da superfície e carecem da acidez de sátiras
sociais que os Coen já fizeram em filmes como Fargo (1996), O Grande Lebowski(1998) ou Queime Depois de
Ler (2006).
Assim, Garotas em Fuga diverte pelo seu universo povoado por personagens
excêntricos, ainda que não faça nada que os Coen não tenham feito melhor em
trabalhos anteriores.
Cresci com as tirinhas do
Garfield e assistindo a série animada que passava no Cartoon Network, até
assisti os dois live action em que
Bill Murray deu voz ao gato mal humorado (o primeiro é inofensivo, o segundo é
ruim), mas mesmo o retorno à animação não me empolgou muito para este Garfield: Fora de Casa. A trama tenta
recontar o início da relação do gato Garfield (Chris Pratt) com seu dono, Jon
(Nicholas Hoult), com Garfield eventualmente sendo sequestrado e forçado a
ajudar o pai que nunca conheceu, Vic (Samuel L. Jackson), a realizar um roubo
para a perigosa gata Jinx (Hannah Waddingham) como forma de pagar um dívida.
Estrelado por Halle Berry e Mark
Wahlberg, A Liga é uma mistura de
comédia romântica e filme de ação que não empolga em nenhuma das duas frentes.
Roxanne (Halle Berry) é uma espiã que trabalha para a agência secreta conhecida
como A Liga, quando uma missão da errado e toda a equipe dela é morta, a agente
decide pedir ajuda a alguém de fora, seu ex-namorado de tempos de colégio: Mike
(Mark Wahlberg). Ele é um operário de meia idade que mora com a mãe e continua
no mesmo emprego com a mesma vida e é recrutado por Roxanne para recuperar uma
lista com os dados de todos os agentes infiltrados de todas as agências de
inteligência do mundo antes que a lista caia em mãos erradas.
Assistir Aracnofobia (1990) e sua continuação na Sessão da Tarde quando
criança me deixou com medo de aranhas por muito tempo. A possibilidade de
talvez ser traumatizado de novo por um filme de terror com aranhas
provavelmente foi o que me impeliu a assistir este Infestação, produção francesa que é o primeiro longa-metragem do
diretor Sébastien Vanicek.
Humanidade inane
A trama é centrada em Kaleb (Théo
Christine), um jovem de vinte e poucos anos que vive de revender tênis de marca
e mora no apartamento de sua falecida mãe em um prédio de habitação popular na
periferia de Paris. Ele não tem muitas perspectivas de futuro e se interessa
por animais exóticos. Um dia ele compra uma aranha estranha em um container de
plástico da loja de produtos roubados na qual ele adquire os tênis que revende.
Logicamente a aranha escapa e rapidamente se multiplica, infestando o prédio.
É impressionante como os filmes
da parceria entre a Blumhouse e a Prime Video partem de boas premissas, mas
ficam aquém de seu potencial. Aconteceu em Noturno(2020), em A Babá(2022) e agora
volta a acontecer neste A Casa Mórbida,
cuja premissa pode ser resumida com “e se O Ursose passasse em uma casa mal assombrada?” para tentar desenvolver um
“horror gastronômico”.
Quando escrevi sobre a produção
coreana Força Bruta (2022) mencionei
como o filme trazia uma trama bem básica, mas se sustentava pelas cenas de
ação. Este Força Bruta: Sem Saída
segue na mesma toada, entregando uma narrativa similar ao que já vimos um monte
de outras vezes e se elevando pela condução da ação.
Crimes banais
A trama acompanha o detetive Ma
Seok-Do (Don Lee) que precisa investigar assassinatos conectados à chegada de
uma poderosa nova droga nas ruas da Coreia do Sul. A investigação o leva a uma
disputa por território entre gangues locais, membros da yakuza japonesa e as
tríades chinesas. Tráfico e guerras de gangues são comuns em filmes de ação e a
trama não faz nada com essa premissa que já não tenhamos visto antes. Ao menos
consegue tornar seus vilões em ameaças críveis e com personalidades
excêntricas, como o sanguinário yakuza Ricky (Munetaka Aoki). Don Lee é um
protagonista carismático ao equilibrar o jeito durão de Seok-Do com um lado
mais bonachão.
Depois de uma primeira temporada que demorava a desenhar seus principais conflitos e que funcionava como um
grande prólogo de uma narrativa que estava por vir, a segunda temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder
entrega uma narrativa mais concisa e focada do que seu ano de estreia. Se o
primeiro ano demorou a encontrar um rumo, esta temporada já parece saber desde
o início qual será seu foco.
Se na temporada anterior tudo
girava em torno da possibilidade de Sauron (Charlie Vickers) estar vivo, aqui a
temporada foca justamente no vilão e como ele manipula todos à sua volta, em
especial o artesão élfico Celebrimbor (Charles Edwards). Os três anéis élficos
forjados no final do primeiro ano foram realizados sem a influência de Sauron e
agora o vilão quer estar perto de Celebrimbor conforme o convence a forjar anéis
de poder para os anões e homens, inserindo suas trevas nos artefatos. Ao mesmo
tempo, Galadriel (Morfydd Clark) tenta convencer o rei Gil-Galad (Benjamin
Walker) e Elrond (Robert Aramayo) da presença de Sauron entre eles e de como os
anéis élficos podem ser importantes para a batalha que virá. O Estranho (Daniel
Weyman) segue em sua peregrinação para leste ao lado de Nori (Markella
Kavenagh) enquanto Míriel (Cynthia Addai-Robinson) e Elendil (Lloyd Owen)
retornam para Numenor apenas para se verem sob a suspeita dos opositores
liderados por Pharazon (Trystan Gravelle).